quarta-feira, 13 de julho de 2022

Guiné Bissau Rogério Silva e MDC

 GUINÉ-Bissau

Rogério Silva . Tem bem razão no excelente texto.
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Vivemos isso. E felizmente acabamos com isso...e na pequena Guiné .... do grande Amílcar Cabral ... as contradições dos horrores do colonialismo e da guerra...Nela tivemos uma "Universidade" real de outras aprendizagens...foi local de sacrifícios para o principio do fim da mordaça. ABRAÇO .....MDC.…
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Pode ser uma imagem a preto e branco de 3 pessoas, pessoas em pé e ao ar livre
O “quico” cubano e a guerra na Guiné Bissau.
Creio, sinceramente, que um dos períodos mais difíceis da minha vida, foram os tempos da guerra colonial.
Não tanto pela violência que todas as guerras têm, mas também pelo conflito com que interiormente me debati.
Foi em toda a minha vida, já longa, o período mais difícil de gerir.
Foram longos meses de conflito em que, intelectualmente e por formação política apoiava o PAIGC, mas como comandante de um pelotão e oficial “ranger” tinha que, por um lado de combater aqueles em quem acreditava, e por outro lado tentar manter vivos os homens que comandava.
Estive numa das zonas mais difíceis da Guiné.
A base de Kumbamory, 2ª maior base do PAIGC na Guiné distava, em linha recta, 18 Km de Bigene ) o "quartel" onde estava sediado na fronteira Norte com o Senegal.
Fui algumas vezes lá.
Uma vez, por distração estive e sem ser detectado, a cerca de 100 ou 150 metros, com 5 homens.
Os restantes tinham ficado a proteger a retirada, - sempre que eu levantava o braço e mostrava o indicador e o médio os dois últimos homens da coluna ficavam no local.
Foi quando o António Mancale me toca no ombro e diz:
“Alfero para! aí mesmo é Mampatás (Kumbamory) a gente manda morteirada (o cabo Alves do morteiro 60) estava nos cinco depois dá rajada e vai embora.
Sabia que junto á base havia população civil mulheres velhos e crianças.
Nos dois acampamentos que constituíam a base de Kumbamory, distanciados cerca de 150 a 200 metros um do outro, confirmado num almoço em que, devido ao Zaluar tive a honra de partilhar o lugar ao lado direito de Luís Cabral deviam estar cerca de 200 guerrilheiros, fortemente armados com morteiros pesados, canhões sem recuo, fora o armamento ligeiro.
Lembro-me de dizer para o António Mancale.
Não a gente vai embora não vai haver tiros.
Nas minhas recordações frescas, estava a imagem que, após um dos ataque do PAIG ao ”aquartelamento” – leiam-se aldeamentos estratégicos - em que, seguindo o exemplo dos americanos no Vietnam, os portugueses obrigaram as populações a abandonar as suas aldeias e "migrarem" para uma área circundante aos quartéis queimando as suas casas nas aldeias em que viviam.
O massacre de Wiryamu em Moçambique foi devido à resistência da população em abandonar as suas casas teres e haveres
Mas reatando as recordações, que na altura estavam estavam frescas e retomando o ataque do PAIGC a BIGENE.
Após o ataque, fui ver os “estragos”.
Numa casa, a norte da estrada que ligava Bigene a Barro, deparei-me com uma cena que ainda hoje me provoca pesadelos.
Uma granada de um morteiro pesado do PAIGC, tinha rebentado perto.
Uma mulher jovem estava sentada, encostada á parede, e fora decapitada por um estilhaço da granada.
Um bebé agarrado à mama da mãe mamava e chorava ente o sangue que escorria e cuja cabecita estava encostada à cabeça decapitada que pendia junto à mama.
Hoje creio que, quer pelo exemplo quer pela condenação da guerra e também pela situação física que atingi, cheguei a pesar pouco mais de 40 Kg, o que não permitia carregar com a G3 cinturão com carregadores etc, consegui o respeito quer dos militares que comandava quer da Companhia a que pertencia quer da população.
Voltando ao título “o quico cubano”.
Numa das patrulhas ou emboscada, encontramos um “quico” cubano no carreiro.
Desde essa altura, e ainda o tenho, deixei de usar o quico do camuflado português e usei sempre um “quico” semelhante ao que usa o guerrilheiro que está ao lado de Amílcar Cabral.
Também tive um gorro igual ao quer o Amílcar usa.
A realidade é sempre a resultante feita dos vectores das forças contraditórias.
Julgo, e posso estar errado pois não sou psiquiatra nem psicólogo.
Mas estou em crer que, quer o uso do quico cubano quer do gorro similar ao de Amílcar, foram uma forma de, pessoalmente, tentar ultrapassar a contradição em que vivia.
Tu e José Jesus Oliveira
Adoro
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