terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Ainda outra vez. À UNIÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES (2)

 AINDA a União dos Antigos Combatentes

Antonio Martinho da União dos Antigos Combatentes.
ícone do distintivo
Meu caro Manuel Duran Clemente devo dizer-lhe que concordo com algumas partes do seu texto e outras não as entendo... mas também me parece que o meu amigo não entendeu bem o regulamento ...e por isso deixo aqui o parágrafo 3 do RIG, o qual nos diz que este nosso grupo não é o fórum próprio para escalpelizar essas bases políticas das questões coloniais....
3) Participar na política relacionada com os nossos interesses.
E apenas se tal política, se revestir positiva, na defesa dos nossos direitos, liberdades e garantias
Com exclusão de se permitirem quaisquer publicações com menções de carácter partidário/ ideológico e eleitorais.
as quais serão eliminadas de imediato
4) Aos administradores cabe, cumprir e
Fazer cumprir o Regulamento Interno do Grupo, Notas da Administração e demais disposições, que regulam a disciplina e as normas de conduta social, que são nosso apanágio como combatentes.
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Manuel Duran Clemente
Antonio Martinho Obrigado pela resposta. Ainda bem que concordou com algumas partes. Não precisa concordar com tudo. Francamente não percebo, sou burro, em que é que infrinjo quaisquer das alíneas que me enviou. Defendo acerrimamente os direitos dos antigos combatentes. Não concordo com o tratamento dado aos antigos combatentes. Discutir o colonialismo e a democracia é um dever cívico e é tão ideológico como é não fazê-lo.. Não discutir a guerra colonial ou do ultramar é uma razão tão ideológica como discuti-la .Aí não percebo!. Vocês (administradores)ou a interpretação do RIG é que é ideológica, pois colocam-se na posição de fraqueza de não deixar que se fale outra linguagem que não a vossa. Não será? Tudo é ideológico meu camarada e amigo. Ninguém se pode gabar de não ser politico. Nem se gabar de não ter um braço ou uma perna ou uma cabeça que pense. Assim terão a UACU sempre algemada. Bom Natal. Duran Clemente ,Coronel Ref. com duas comissões de guerra. Cavaleiro da Ordem de Aviz e com cinco louvores de General,em15 anos activos de militar e mais oito anos como aluno e finalista, comandante de batalhão, no Instituto dos Pupilos do Exército.Na Guiné fui Segundo comandante de Batalhão com 4 destacamentos no mato.MDC.
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Á UNIÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES

 

  À  UNIÃO DOS ANTIGOS COMBATENTES

Manuel Filipe Quintas comentou: «Alguns meses depois de ter aderido a vários grupos de ex-combatentes percebi, sem grande esforço, que não há consenso possível entre a nossa classe em torno dos mais variados temas da nossa sociedade.

Acredito que a idade já faz mossa em muitos de nós e a prova disso é que estamos cada vez mais rabugentos, cada vez mais saudosistas, como se no passado estivesse toda a virtude e quiséssemos voltar a viver nos anos sessenta com a idade que temos agora.

Salvo as honrosas amizades que por lá se fizeram e que felizmente ainda hoje perduram, socialmente somos um caso perdido porque na nossa idade nunca conseguimos unir-nos em torno de uma causa, por mais importante e pacífica que ela seja para todos nós. Atente-se no muito que nos separa nos casos do Estatuto do Combatente, do Cartão de Combatente, da liberdade, da democracia, etc., etc….

Como se tudo isto não bastasse estamos cada vez mais intolerantes para com os camaradas que não pensam como nós. Os sinais de rabugice são cada vez mais evidentes, é como se boa parte de nós não tivesse outro propósito que não seja chatear os nossos companheiros de jornada, aqueles que percorreram o mesmo caminho há algumas décadas.

Eu respondi:

Manuel Filipe Quintas Subscrevo o que disse e alegro-me que haja quem o acompanhe. «Como se tudo isto não bastasse estamos cada vez mais intolerantes para com os camaradas que não pensam como nós. Os sinais de rabugice são cada vez mais evidentes, é como se boa parte de nós não tivesse outro propósito que não seja chatear os nossos companheiros de jornada, aqueles que percorreram o mesmo caminho há algumas décadas.»Como se tudo isto não bastasse estamos cada vez mais intolerantes para com os camaradas que não pensam como nós. Os sinais de rabugice são cada vez mais evidentes, é como se boa parte de nós não tivesse outro propósito que não seja chatear os nossos companheiros de jornada, aqueles que percorreram o mesmo caminho há algumas décadas.»Subscrevo.

Verdade verdadinha.Há dias escrevi isto e já foi censurado.«Aceitem opiniões diferentes que não pretendem ofender mas sim são opiniões próprias e não partidárias. Não vejo nenhum partido a dar indicações a ex-combatentes da guerra colonial honestos, honrados e que gritam o seu justo mal estar por não serem atendidas as suas reivindicações durante 46 anos. Mas com isso por favor não justifiquem a guerra em homenagem aos mortos militares de cada lado. Não confundam os males da vida de hoje com os males do antigamente, eram, para muitos de nós ,bem piores. Ninguém deve destruir este grupo, mas respeitem-se as opiniões variadas e os pretensos esclarecimentos ,por vezes diferentes, de cada ex-combatente. Bom Natal. Ver menos»

Acho impróprio de camaradas militares que sofreram na guerra (os administradores deste grupo)que censurem o que se escreve quando se comenta ,como eu, com o mais saudável sentido de UNIÃO e de Democracia. Que pretendem esses camaradas ?Que todos tenhamos a mesma opinião? Que não respeitem opiniões diferentes?Que sejamos obrigados a ter a opinião que o Salazarismo tinha?Que não compreendam que fomos brutalmente enganados durante anos e anos? Que os ventos da história mudaram? Que o colonialismo não permitiu que os países colonizados progredissem normalmente e as gentes colonizadas não tivessem tido espaço para aprender a gerir o que lhes pertencia? Que nós próprios estamos na cauda da Europa porque alguém não soube desenvolver o país e gastou o dinheiro numa guerra abjecta? Mas se alguém tem opinião diferente ,eu respeito, não me zango...mas gostaria que houvesse entre nós respeito. Que soubéssemos dar o exemplo como o fizemos na guerra salvando-nos e salvando os nossos companheiros de aflições e sofrimentos, salvando vidas militares e civis. Estávamos unidos. Hoje parece que há quem não queira? Muito para falar sobre isto.Há quem não seja capaz de mudar de ideias. Respeita-se. Respeitemo-nos, mesmo estando em desacordo. Não somos uma carneirada de pensamento único.BOM NATAL outra vez.MDC.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

VL e o 25 de Novembro...ainda o PCP?

 Caro Vasco,



«Tudo começou com uma informação que o ex-Capitão miliciano Luís Pessoa, nosso sócio efectivo, lamentavelmente falecido já em plena crise viral, me fez chegar, contida num relatório seu, onde dava conta das actividades que então desenvolvera.

Sempre em contacto com ele - que desejava ver as suas informações tornadas públicas - pude investigar todas essas informações, tendo confirmado a totalidade das mesmas e acrescentado outras, que ele próprio desconhecia.»

O Luis Pessoa é responsável por dar instruçóes em nome pessoal dizendo que eram do SDCI. Aconteceu comigo ao pedir.me para tomar a RTP e dar voz aos paraquedistas...Vim a saber que era mentira,não tinha vindo nem de Rosa Coutinh, nem de Macedo,nem de Contreiras nem de P.Pinto. Zé Emilio me perguntou mais tarde porque fui para a televisão. Respondi foram vocês de SDCI...que  o solicitaram para dar voz aos Paraquedistas.
O falecido nunca foi fiável e tenho uma cena dele em Maputo (1980) alvejando os que lá íam assinar contratos de cooperação e não eram claramente do PCP ou enviados por este.

Tive uma intervenção com ele e Antonio Abreu aqui nos arredores há pouco menos de 3 ou 4 anos em que o vi taralhouco e pouco sério nas suas sustentações. É pena ter de falar assim de quem já não pode defender-se.

Mas essa tua descoberta de que o 25 de Novembro foi planeado pelo PCP....ou eu li mal ou tu estás com uma grande dor de cabeça,

Depois dos dados existentes ,das afirmações de Gomes Mota na "RESISTÊNCIA" (seu livro), das tuas duvidas/Certezas, das duvidas/certezas do Otelo...das decisões do Comité Central do PCP em Agosto e em Alhandra....relatadas a Melo Antunes...o que quer que o Luís  te tenha dito é mera especulação ou ficção ou confusão.
ABRAÇO.




----- Mensagem encaminhada de A25Abril <vlourenco@a25abril.pt> -----
Data: Thu, 26 Nov 2020 19:43:48 +0000
De: A25Abril <vlourenco@a25abril.pt>
Assunto: Fwd: 25 de Novembro - reflexão, nos 45 anos
Para: duran.clemente@sapo.pt


Caro Manuel Duran Clemente

Como podes constatar, estou a divulgar esta minha reflexão, apenas por alguns amigos.

Tu és um deles. Confio que gostes de saber alguns pormenores, até aqui desconhecidos. Pelo menos, por mim.

Forte abraço amigo e de Abril

Vasco Lourenço

Caras e caros membros dos corpos sociais.

A passagem dos 45 anos do 25 de Novembro, levou-me a uma profunda reflexão.

Desde há perto de três anos que tenho vindo a tomar conhecimento de factos concretos , até então do meu total desconhecimento, desse acontecimento longínquo, que nos ia lançando num confronto que "todos" temíamos, mas víamos como inevitável.

Tudo começou com uma informação que o ex-Capitão miliciano Luís Pessoa, nosso sócio efectivo, lamentavelmente falecido já em plena crise viral, me fez chegar, contida num relatório seu, onde dava conta das actividades que então desenvolvera.

Sempre em contacto com ele - que desejava ver as suas informações tornadas públicas - pude investigar todas essas informações, tendo confirmado a totalidade das mesmas e acrescentado outras, que ele próprio desconhecia.

Desde aí que me tenho confrontado com a natureza do que devo fazer: dar cumprimento ao desejo que me manifestou, por diversas vezes, de tornar públicas as informações que possuo? Ou privilegiar as possíveis consequências negativas da divulgação das mesmas e limitar-me  a escrever , para "memória futura".

De uma coisa estou certo. Não tenho o direito, pelo contrário tenho o dever de o não fazer, de esconder o que sei, sobre os acontecimentos.

Por isso, mesmo não tendo ainda decidido divulgar publicamente todos os elementos de informação que possuo, optei por vos dar a conhecer a vós, e a mais alguns amigos que irei selecionar, o resumo do essencial desses mesmos elementos.

Tenho a noção, penso ter, da controvérsia e dos resultados que esta minha atitude poderá provocar. Assumo essa responsabilidade, convicto de que estou a tomar a atitude certa.

Fortes abraços de Abril

Vasco Lourenço

25 de Novembro - Reflexão, passados 45 anos

Comecei hoje o dia a recordar, com a minha mulher, que passam precisamente 45 anos, sobre a nossa mudança para a casa (alugada) onde ainda moramos.

Passado pouco tempo, regressado da farmácia em frente, onde fui tomar a vacina para a pneumonia, sento-me, pego no computador e vejo o conteúdo de um dos muitos e-mails recebidos: precisamente, o José Mário Branco, que infelizmente partiu mas nos deixou músicas maravilhosas, de uma força extraordinária, a cantar o seu "Eu vim de longe, de muito longe... eu vou pra longe, pra muito longe"!

Como sempre que a ouço, ao vivo (que saudades!) ou gravada, uma emoção extraordinariamente forte me assalta!

Mais uma vez isso me aconteceu, o que me pôs a meditar sobre o passado, sobre esses dias agitadíssimos e sobre os meses anteriores que nos lançaram num confronto indesejado entre camaradas e companheiros de Abril.

Como costumo dizer, "não aconteceu o pior!".

É um facto, mas também é um facto que nesse dia terminaram muitos dos sonhos acalentados por muitos dos Militares de Abril e por muitos mais portugueses.

E, também como costumo afirmar, por mais que o futuro me tenha vindo a dar razão (a mim e aos que estiveram comigo - e eu com eles - do mesmo lado da barreira), nada justifica, nada pode desculpar que, em conjunto, não tenhamos sido capazes de nos unir à volta do essencial, não tenhamos sido capazes de resistir às influências dos que tudo fizeram para nos desunir, para nos desagregar, para nos colocar em confronto uns com os outros.

Por mais retro perspectivas que faça, por mais evocações que me assaltem, continuo a não me sentir responsável! Mas, o facto é que terei de admitir que também terei tido alguma responsabilidade, nas rupturas que se verificaram entre nós.

Sinto-me de consciência tranquila, ao recordar as inúmeras tentativas que protagonizei, no sentido da unidade à volta do essencial.

Recordo a amargura sentida, e não desaparecida ainda, quando constatei, mais que uma vez, a cada tentativa que protagonizava, a impossibilidade de unidade, a inevitabilidade de uma ruptura.

Tenho bem presente o episódio que o Marques Júnior recordou no livro A Resistência, onde, na sua presença, numa sala do COPCON, eu e o Otelo parámos subitamente a nossa discussão, olhámos um para o outro e não evitámos chorar!...

Também aí, me impus a mim próprio a posição que sempre tentei prosseguir: há valores que não podem ser adulterados, muito menos espezinhados, há barreiras que não podemos ultrapassar!

Foram essas as luzes que me orientaram, foram essas as razões que me levaram a envolver na preparação de uma resposta capaz, a qualquer tentativa de inverter o caminho da legalidade e, mais importante, da legitimidade, que, ainda que tendo de enfrentar enormes obstáculos, nos estava a encaminhar para a prossecução de um dos principais objectivos do 25 de Abril, essa epopeia sem igual na História Universal.

Falo da implantação de uma Democracia política e pluralista, de um regime de franca Liberdade, através da livre aprovação de uma Constituição da República.

Fora esse o valor que unira os Capitães de Abril e os lançara na aventura libertadora, conscientes de que só assim alcançariam a Paz, por que todos ansiavam!

Foi esse o cimento que os manteve unidos, fiéis aos seus valores, aos ideais de Abril, e lhes permitiu cumprir todas as promessas feitas aos seus compatriotas!

E foi isso que nos impeliu a preparar, e estar em condições, para dar resposta às acções que, em 25 de Novembro de 1975, como se admitia pudesse acontecer, surgiram, no sentido de fazer o 25 de Abril descarrilar e colocá-lo numa de duas outras vias, não alternativas mas sim opostas: a de uma vanguarda revolucionária a caminho de um socialismo científico ou popular (como sabemos, absolutamente incompatíveis entre si...) ou a de um regresso ao passado, onde a Liberdade seria limitada (q.b.) ou mesmo suprimida, como acontecera durante os 48 anos da ditadura fascista e colonialista.

Nestas reflexões, dou por mim a cogitar sobre o que aconteceu, o que poderia ter acontecido, o que não aconteceu, qual o futuro de Portugal, se tudo tivesse sido diferente - para um lado ou para o outro - a situação a que chegámos...

E, por mais desgostos que tenha sofrido, por mais desilusões que me assaltem ... continuo a pensar que estive do lado certo da História, que tudo teria sido bem pior, se uma das outras quatro hipóteses tivessem saído vencedoras.

Alguns amigos meus - antes e depois, ainda que então tivéssemos estado em posições opostas - continuam a proclamar que "a guerra civil nunca foi possível".

Felizmente já são poucos, pois a maioria já percebeu que, de facto, estivemos à beira de que essa calamidade nos tivesse "batido à porta"! Estivemos à beira do abismo, com muitos a quererem que fosse dado um passo em frente!...

Não aconteceu, a guerra civil foi evitada, in extremis, o objectivo essencial foi alcançado, com a aprovação da Constituição da República.

Nos anos seguintes, tal como acontecera no pós 28 de Maio de 1926, as forças totalitaristas tentaram transformar o 25 de Novembro num novo 28 de Maio. Não o conseguiram, em grande medida devido à acção dos Militares de Abril, através do Conselho da Revolução.

Passados quase sete anos sobre o 25 de Novembro, o Período de transição terminou, os militares deixaram de ter participação activa, enquanto tal, na vida política, a Democracia consolidada pôde fazer o seu caminho - já lá vão 38 anos -, com força e capacidade para resistir aos saudosos do tenebroso passado, que voltam a estar assanhados e a deitar as unhas de fora.

Como remate a esta reflexão, pergunto-me a mim mesmo: porquê, "só depois de casa roubada, se colocam ferrolhos nas fechaduras"?

Porquê, não foi possível construir a unidade, à volta do essencial, antes da ruptura?

Porquê, os grupos minoritários - nomeadamente os grupos "constituídos" no seio do MFA, mas também os partidos políticos - não fizeram um correcto estudo de situação e perceberam estarem em minoria na correlação de forças?

E, consequentemente, porque  é que essas forças não aceitaram uma unidade à volta do essencial? Isto é, à volta dos objectivos consignados no Programa do MFA?

A ruptura foi um facto, a unidade do MFA desfez-se, o MFA ficou enfraquecido e, apesar de sair vencedor da "refrega", apesar de deitar borda fora os esquerdistas, de colocar "em su sítio" o PCP, a sua maior vitória consistiu, em minha opinião, no ter evitado a vitória dos radicais de direita, que preparavam e tentaram o regresso ao passado!

Já tarde, mas ainda bem que isso aconteceu, findo o período de transição, finda a intervenção directa dos militares - enquanto tal e por vontade própria - os Militares de Abril, duma forma geral e altamente maioritária, conseguiram unir-se à volta do essencial.

O verdadeiro espírito de Abril prevaleceu e, numa enorme maioria (da ordem dos 90 a 95 %) uniram-se e criaram a Associação 25 de Abril. Os que haviam andado a prender-se uns aos outros, para garantir o cumprimento das promessas feitas em 25 de Abril, esqueceram o que continuava a poder ser motivo para se dividirem e uniram-se à volta do essencial, à volta do que continuava a ser motivo para os poder congregar.

Passados 38 anos de existência, sendo que na Associação 25 de Abril só lá estão os que lá querem estar e estão lá todos os que lá querem estar, é altamente significativo que lá continuem mais de 85% dos que continuam vivos.

Como em todos os aniversários, muitas evocações se fazem, muitas asneiras se dizem, umas por ignorância, outras por má fé.

Como um dos que esteve no "núcleo do vulcão", segundo da cadeia hierárquica do Comando das operações do lado dos "vencedores"(o Grupo dos Nove) - o primeiro foi o PR, Costa Gomes,  o terceiro foi Ramalho Eanes, como meu adjunto - ainda não sei tudo o que se passou.

Por isso, não me coloco na situação de alguns comentadores/jornalistas/historiadores, que falam com certezas absolutas.

Depois de um texto que foi publicado, em 2016, no livro "25 de Novembro - Reflexões", obtive mais informações, muito importantes, que me permitem informar estar, hoje, na posse de mais de 90% da verdade, sobre o que aconteceu no 25 de Novembro de 1975.

O restante, como em tudo na vida histórica dos países e dos povos, provavelmente nunca se saberá.

Já escrevi, para "memória futura", o essencial dessas informações. Não sei se algum dia o irei publicar, ou se o deixarei apenas para "memória futura".

Considero no entanto, que devo tornar públicos, para já apenas num sector restrito, alguns dados que ajudarão a esclarecer um pouco melhor o que se passou.

Resumidamente, aqui vo-los deixo:

. O CEMFA, General Morais Silva, determinou a dissolução das Forças pára-quedistas.

. O Comandante do COPCON e da RML, General Otelo Saraiva de Carvalho, propôs a inclusão dessas Força pára-quedistas na dependência do COPCON.

. O PR/CEMGFA,  General Costa Gomes, aceitou, sendo no entanto necessário colocar as mesmas Forças na dependência administrativa da RML, em virtude de o COPCON não possuir autonomia administrativa. Daí que elas ficariam a pertencer à RML e seriam atribuídas, operacionalmente, ao COPCON.

. O CR decide substituir o General Otelo Saraiva de Carvalho, no Comando da RML, pelo Capitão Vasco Lourenço.

. O PCP, através da sua célula nos sargentos pára-quedistas, lança a falsa notícia (hoje chamada de fake news) de que Vasco Lourenço não aceitaria essa solução.

. Por razões ainda desconhecidas ( admite-se que por um boato tipo "matança da Páscoa", utilizado no 11 de Março), um oficial da Força Aérea , pertencente ao COPCON, acciona a "ocupação " da Base Aérea do Montijo.

. Os oficiais da Força Aérea, na coordenadora da chamada "esquerda militar", sabem da gafe e, perante a precipitação, vêem que é necessário justificar a "ocupação" da Unidade da Força Aérea.

. Conseguem, por isso, convencer Otelo (sem o informarem da já realizada "ocupação" de uma Base Aérea) da necessidade de autorizar a ida de forças pára-quedistas às unidades da Força Aérea, para aí fazerem sessões de esclarecimento, na sua "justa luta" contra o CEMFA.

. Otelo ordena a um oficial da Força Aérea, colocado no COPCON, que telefone ao Comandante das Forças pára-quedistas e lhe transmita a luz verde para irem às Unidades da Força Aérea fazer sessões de esclarecimento.

. O Comandante dos pára-quedistas, que obtivera de Otelo a garantia de total apoio na sua luta contra a ordem de dissolução das Forças pára-quedistas, ordena a ida às Unidades para fazerem sessões d esclarecimento.

. O PCP, através da sua organização (clandestina) nas Forças Armadas, acciona um plano, previamente preparado com o seu núcleo dos sargentos, para transformar as sessões de esclarecimento em acções de demonstração de força e eficácia.

Ao mesmo tempo, acciona acções diversas, através de oficiais da sua confiança, sejam intervenções individuais dos mesmos, sejam intervenções de forças por eles comandadas.

Simultaneamente, acciona também acções por "forças" civis e lança forte mobilização de militantes, nas suas várias estruturas, com intenção de os armar e envolver na contenda.

Com isto pretendia, não um golpe de Estado mas sim uma situação que permitisse a substituição dos membros da Força Aérea no CR (a começar no CEMFA), com a natural alteração da correlação de forças no interior desse órgão de soberania.

. Os Nove, ou Moderados, reagem, garantem o apoio do PR, e obtêm a não intervenção dos Fuzileiros, força que, no estudo de situação feito, o PCP considerava estar do seu lado.

  No imediato, accionam o plano previamente preparado, para a eventualidade de acontecer o que, em seu entender, estava no terreno.

. Conhecedor da suposta intervenção do PCP, Costa Gomes chama a Belém o líder deste partido, Álvaro Cunhal, e obtém dele (como? com que argumentos?) o recuo, a ordem de paragem de todas as actividades de elementos por si "controlados", envolvidos (ou a envolver) na acção.

. Tudo terminaria, ainda que menos rápido que o desejável.

  . Parte das forças "de esquerda", não ligadas ao PCP, não percebendo a cilada em que haviam caído, não percebendo o que estava a acontecer e o imbróglio em que estavam metidas, não obedeceram às ordens do PR, não se colocaram sob o Comando da RML (entretanto redefinido), o que acontece nomeada e principalmente com o Regimento de Polícia Militar, sediado na Calçada da Ajuda.

    Com isso, deram origem a um confronto militar, de que resultaram três mortes.

    O Grupo radical da extrema direita, que queria mais, queria sangue, alcançava aqui uma pequena vitória.

    Essa desorientação, levaria as Forças pára-quedistas a não se renderem em Tancos (só o fizeram na tarde do dia 27), só não provocando males maiores - com os "falcões" a quererem bombardear aereamente tudo e todos (RALIS; Forte de Almada; Tancos) - porque a isso se opuseram, determinantemente e com todo o vigor, Vasco Lourenço e Ramalho Eanes.

. Ainda hoje, Otelo proclama que "não mandou ocupar as Unidades da Força Aérea".

 . Ainda hoje, os pára-quedistas não integrantes do núcleo do PCP (a começar no seu Comandante), bem como todos os que se envolveram sem saberem do "golpe" do PCP, continuam a chamar "traidor" ao Otelo.

Mesmo alguns dos que já eram ou se fizeram posteriormente militantes.

Isto, porque o PCP teve, como penso ser seu hábito, uma actuação vertical e não horizontal. Levando ao máximo o conceito de que "cada um, só deve saber o que precisa de saber e nada mais...".

Por mim, continuo:

. A considerar que o 25 de Novembro foi o retornar aos seus naturais carris do 25 de Abril!

. A olhar para o 25 de Novembro como o acontecimento que o 25 de Abril teve e o 5 de Outubro não teve. O que provocou, desde já, que o regime implantado pelo 25 de Abril esteja prestes a alcançar o triplo dos anos que o regime nascido do 5 de Outubro (não a República versus Monarquia, mas sim a Democracia versus Ditadura) aguentou.

. Por isso, apesar de o 25 de Novembro continuar a ser factor de divisão entre os que fizeram o 25 de Abril, apesar de um dos grupos então vencidos continuar a tentar apropriar-se dele, continuo a considerar-me honrado, pelo meu posicionamento e comportamento nesse quase trágico acontecimento.

. Menos, é certo, que do orgulho e honra que sinto, que continuo a sentir, pela minha acção no 25 de Abril, mas convicto de que, também aí, estive do lado certo da barreira, no lugar certo da História! ...

Lisboa, 25 de Novembro de 2020

Vasco Lourenço

Enviado do meu iPad



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