segunda-feira, 1 de junho de 2020

Apontamento Os capitães e Salgueiro Maia

Salgueiro Maia ---Moisés Cayetano
Pequeno apontammento
Há militares que já tinham uma certa cultura vinda do ensino secundário e superior.A partir de 1960 dá-se uma democratização dos cadetes que vão para os tres ramos das FFAA. Com a guerra colonial deixam de ir para as Academias Militares os filhos da classe média alta,de oficiais generais e passam a ir filhos do Povo....(no ramo exercito) de 80 cadetes filhos da burguesia passam a entrar 400 filhos de extractos sociais mais baixos,do Minho a Timor,para satisfazer as necessidades da guerra.Sobre isso ler Maria Carrilho a socióloga que escreveu um livro sobre a "sociologia das FFAA "nos anos 80. Esses jovens oficiais com os jovens da Armada e da Força Aérea têm uma compreensão diferente do que se passa na guerra quando chegam a ela em 1961 e há toda uma dialéctica que se desenvolve nos anos sangrentos.São esses que são capitães,em 1974. entrados nas Academias em 1960 e seguintes .Também é facto bastante importante a companhia de militares milicianos, ex-universitáriose das lutas académicas e alguns com uma cultura politica assaz esclarecida. Durante dois anos ou mais nasce(tempo de cada comissão expedicionária) um caldo de cultura muito estreito que se produz entre os militares de carreira e os militares milicianos.E nos oficiais do quadro (capitães) se repetiu duas três ou mesmo quatro vezes.A realidade da guerra desmente a propaganda da ditadura e ainda mais quando essa guerra se supunha de 4 a 5 anos e chegam aos 13 anos nas tres colonias Guiné,Angola e Moçambique sem uma solução politica esperada à partida.Estamos nos anos 60 .Grandes acontecimentos se passam pelo mundo com lutas de protesto pela liberdade,igualdade e direitos humanos.O ano de 1968, é por exemplo, um ano proficuo de lutas na Europa e noutros continentes : Lutther King,Black Power e mortes de estudantes no México,Maio de 68,lutas académicas, descolonizações, Woodstck/69, os Beatles de 1960 etc,etc........................Nos anos de guerra os capitães no mato desempenham um papel essencial( ler Pezarat Correia-"questionar Abril") que reflecte exactamente sobre três aspectos: o que se passa no mundo, o efeito boomerang da "acção psicológica aprendida nos quarteis" e porquê "capitães. O que se passa no mundo tem a ver com o pos-guerra,com as descolonizações e com as guerras perdidas na Indochina(França) e Vietnam (EUA-quase no fim)para além do que já referi sobre os anos 60.O fruto da acção psicológica que nos ensinaram teve um efeito "boomerang".O que ía na cabeça feita dos militares(e oficiais) é que íamos por bem , com a teoria hipócrita duma "evangelização cultural,religiosa e desenvenvolmentista " o que no contacto com as realidades e com os africanos se revelava com efeito contrário.Não raras vezes eles nos diziam "vocês estão enganados".Vejam! E tivemos mais duma década para ver. Por ultimo porquê capitães ,como diz Pezarat, porque os capitães no mato eram os comandantes ,os pais, os médicos,os enfermeiros,etc... daquela gente à volta dos aquartelamentos.A consciência dos militares foi se desenvolvendo e alargando e bastaram uns quantos mais ousados e mais cultos pliticamente para aglutinar o descontentamento geral.Começa na Guiné por ser mais pequeno o terrirório,mais fácil o contacto dos capitães e a acção aparentemente revolucionária de Spínola!De lá sai em Agosto/73 o primeiro protesto de 50 capitães e já tinha saído,meses antes, o protesto de 400 militares contra um "célebre" "Congresso dos Combatentes no Porto" de aparência ilusória e fabricado pelo Poder na base de milicianos adeptos do regime.Em Setembro aos 50 capitães da Guiné se juntam perto de Évora mais 136 militares (95 capitães,39 tenentes e 2 alferes)...e o «Movimento dito de capitães» passa a contar com praticamente mais de duas centenas de militares porque também entram alguns oficiais superiores e os capitães aderentes de Angola e de Moçambique.................................................................................Já contei aqui no FB, noutra ocasião, que conheci, em Setembro de 1973 ,Salgueiro Maia (vindo do final duma missão no mato) numa reunião ,das autorizadas.no meu batalhão onde estava situada a Biblioteca do QG. Foi clarividente o seu discurso das contradições e a demonstração da sua vontade em derrubar o regime. Militar de coragem."Temos homem" exclamámos alguns.A História viria a confirmã-lo. MDC 1.06.2020
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Moisés Cayetano Rosado-Manuel Duran Clemente muito obrigado, caro amigo. Espero que sigas bien.

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