terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Chão Manjaco Guiné-Bissau 1970

 Tenho referido que houve crimes na guerra colonial de ambos os lados na guerra colonial e já referi este caso como um crime bárbaro. Faltavam-me os pormenores que hoje partilho.

Tive, em Bissau, uma discussão com Vasco Cabral (nos anos 80), de quem fui muito amigo, sobre isto e fiquei desiludido porque ele confirmou esta barbárie como um acto positivo da parte do PAIGC. Fiquei muito desiludido. Nós pensávamos que tinha sido um impulso dum louco guerrilheiro. E Vasco Cabral , economista, Ministro do Plano e Economia, e um ilustre da Casa de Estudantes do Império em Lisboa, então casado com a economista Luísa Gabão/conhecidos em Argel, era um senhor com princípios. Esta sua confirmação e posição magoou muito a minha sensibilidade. Lamento e condeno.MDC.

Pode ser uma imagem de 3 pessoas e texto que diz "1 2 Os mártires do Chão Manjaco" 3 1 Maj. Arta Joaquim Pereira da Silva Maj. Arta Raul Ernesto Mesq. da Costa Passos Ramos Maj. Inf Alberto Fernão de Magalhães Osório Alf. Mil. Cav. Ranger Joaquim João Palmeiro Mosca"
Da página de facebook do António Graça de Abreu, à atenção do senhor Mamadu Ba e demais "activistas" com palas nos olhos.
"É a guerra aquele monstro que se sustenta de fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta.
Padre António Vieira (1608-1697)
A propósito de crimes de guerra cometidos na guerra da Guiné, escrevi no meu Diário de guerra, em Teixeira Pinto (Canchungo), a 18 de Agosto de 1972:
No dia 20 de Abril de 1970, os três majores deste nosso CAOP 1 ( Comando de Agrupamento Operacional 1) Magalhães Osório, oficial de Informações, Pereira da Silva, oficial de Operações e Passos Ramos, chefe do Estado Maior, mais o alferes Joaquim Mosca e dois assalariados negros, Aliu Sissé, Lamone e Patrão que serviam de intérpretes, foram brutalmente mortos na estrada entre o Pelundo e o Jolmete.
Há dois anos atrás, dando corpo à política do general Spínola da “Guiné Melhor” e pacificação do chão manjaco, enveredou-se por uma estratégia político-social de que o CAOP 1 seria também executor, tentando-se convencer alguns comandantes militares do PAIGC a depor as armas, trazendo-os para o nosso lado e criando-se condições para a inserção harmoniosa desta gente numa nova Guiné, moderna, de paz e progresso para todos. Realizaram-se várias reuniões entre os três majores do CAOP 1 e os guerrilheiros, o diálogo parecia começar a dar frutos. O general Spínola participou também num dos encontros e estava disposto a negociar o fim da guerra com o próprio Amílcar Cabral. Avançar-se-ia para uma Guiné com autonomia, uma espécie de soberania partilhada entre negros e brancos. Não era essa -- nem é hoje, -- a linha política do governo de Lisboa, nem do PAIGC que lutava pela independência total e expulsão dos colonialistas brancos.
No dia 20 de Abril de 1970, os três majores, o alferes e os intérpretes saíram desta casa, sede do CAOP 1, em dois jipes para mais uma reunião secreta com os chefes dos guerrilheiros. Passaram o Pelundo e avançaram desarmados, sem escolta, em direcção a uma pequena floresta, no caminho para o Jolmete. Era o lugar combinado, já utilizado em anteriores encontros. Os guerrilheiros estavam lá, à espera dos militares portugueses, desta vez não para negociar mas para os matar. Os oficiais do CAOP 1 partiam confiantes ao encontro dos guerrilheiros, sem uma única arma. Foram todos cobardemente assassinados com tiros na nuca, armas brancas e os corpos, retalhados, esquartejados.
Fui agora buscar ao blogue LuisgraçaecamaradasdaGuiné, de 23 de Maio de 2020, post 21000, a seguinte informação, sobre a acta da reunião de topo do PAIGC, creio que realizada em Conacry, escrita por Vasco Cabral, onde a morte dos majores é exaltada por "Amílcar Cabral como uma enorme proeza de guerra, um acto heróico, matar militares desarmados que iam numa missão de paz. O original encontra-se no arquivo da Fundação Mário Soares, Aí vai:
Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, em 11 e 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral.
Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai.
Secretário: Vasco Cabral.
Disse: Amílcar Cabral – "Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos nossos camaradas do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim três majores, três oficiais superiores que, nas condições da nossa luta, equivale à morte de generais."

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