A economia real e a economia virtual (2)
«Estabeleceu-se uma desconexão entre a economia financeira e a economia real. Dos cerca de 1500 mil milhões de Euros que representam [ em 2002 ] as transacções financeiras quotidianas à escala mundial só 1% é consagrado à criação de novas riquezas. O restante é de natureza especulativa.» -Ignacio Ramonet , in “Guerres du XXI siécle-Peurs e menaces nouvelles. (Intercalado e sublinhados nosso).
A citação em epígrafe vem na sequência do meu post anterior e já foi referida “en passant” no post de 7.12.07 “Uma Europa de Paz e as suas Relações com África”. No anterior escrito focalizámos a questão da anunciada e agora vivida crise económico/financeira nos EUA, assunto que já tínhamos abordado, recentemente, em comentários de posts de companheiros do nosso blogue (e como tal uns dias antes do artigo do Expresso/21 p.p. do cronista M.S.Tavares ). O blogue Avenida da Liberdade, apesar das não desejadas ausências, marcantes, de alguns dos seus prestigiados autores, ainda assim “dá-se ao luxo” de oportunas e humildes antecipações do que vai pelo mundo e afecta (afectará) Portugal e a U.E..
E é mesmo porque isto nos diz respeito que convirá estar atento.
Antes que me esqueça posso afirmar que um terço do investimento português (particulares, banca, seguradoras e Estado),ou seja, um terço dos cerca de 24 mil milhões de Dólares, dava para financiar o TGV em território nacional.
Mas continuando no tema.
Declaram alguns estudiosos que no limiar deste século o mundo é dominado por um duplo triunvirato.
No plano geopolítico e militar pelos EUA, Reino Unido e França.
No plano económico, financeiro e comercial pelos EUA, Alemanha e Japão.
Aliás, no plano geopolítico, esta espécie de executivo, que comanda o planeta, já o faz desde o final do século XIX.
No século vinte assistimos à proliferação de novos países nascidos da queda dos impérios. Mais de 150 nações se vieram juntar à cerca de meia-centena existente. Mas com excepções raras (3 ou 4),esses novos países, continuam num subdesenvolvimento e pobreza crónicos.
Ser-lhes-á cada vez mais difícil sair porque vêem os preços, das suas matérias-primas, cair inexoravelmente.
Os países desenvolvidos ou não pagam o preço justo ou reduzem substancialmente o uso de numerosos produtos de base quando não os substituem por produtos sintéticos.
A “massa cinzenta”, o saber, a informação, a pesquisa, a capacidade de inovação, será a nova riqueza das nações e já não a produção de matérias-primas. O peso daquelas, das componentes da base da nova riqueza, terá agora outra relevância, superior a do peso que antes tiveram estas.
Afirmam muitos investigadores destas questões que (nesta, considerada, era pós-industrial) a dimensão do território, a importância demográfica e a abundância de matérias-primas já não constituirão trunfos significativos e até, podem mesmo, tornar-se desvantagens.
Estados demasiado grandes, com muitos habitantes e muito ricos em matérias primas-Rússia, Índia, China, Brasil, Nigéria, Indonésia, Paquistão, México-estão entre os mais pobres do planeta. Não nos iludamos com os esforços da China, Índia ou Brasil onde significativos progressos não chegam para esconder generalizada pobreza. E a excepção EUA confirma a regra …
Em contrapartida, nesta época da globalização financeira, micro-Estados sem praticamente território nenhum, pouca população e “zero” em matérias-primas- Luxemburgo, Mónaco, Liechtenstein, Ilhas Caimão, Singapura, Gibraltar- têm alguns dos rendimentos per capita mais elevados do mundo !
E mesmo noutros relativamente pequenos o esforço feito nos “novos saberes” e nos “novos meios” apresentam níveis de taxas de crescimento deslumbrantes.
Se a máquina a vapor, no final do século XVIII, provocou a revolução industrial, mudou a face do mundo, impulsionou o capitalismo, a proletarização e as reacções sociais/socialismo, expansão do colonialismo, etc. etc. é verdade que o computador nos trouxe a globalização. A partir de meados da década de noventa, do século passado, as auto-estradas da comunicação, as tecnologias das redes virtuais e a “internet” ,são os meios, nos quais, o neo-capitalismo tudo apostou para um crescimento vertiginoso.
A este febre especulativa que atingiu um dos seus pontos culminantes em 1999-2000 foi chamada “a nova economia”.
A grande batalha económica do futuro iria ser o confronto a travar entre as empresas americanas, europeias e japonesas pelo controlo das redes e pelo domínio do mercado das imagens, dos dados, dos sons, das consolas , dos conteúdos. Mas também , e sobretudo, pela imposição no sector em desenvolvimento exponencial do mercado electrónico.
A “internet” transforma-se numa vasta galeria comercial.
O comércio electrónico atingiu os 40 mil milhões de Euros ( =Dólares) em 2000, passou pelos 80 mil milhões de Euros em 2005 e é estimado em quase 200 mil milhões no ano 2010(mais de 300 mil milhões de Dólares ,ao actual câmbio).
O “boom tecnológico” fez com que acções disparassem em muitas empresas cem vezes e noutras quase mil. É exemplo destas a American On Line (AOL).
Mas este “boom” teve um grave revés em 2000.O índice Nasdaq que previa um ganho de 86,5 % para estas acções em 1999 teve um colapso. No ano seguinte afundou, por todo o mundo, a maior parte das acções tecnológicas e de telecomunicações.
Mesmo durante o “boom” ,nos EUA, as desigualdades continuaram a crescer e no início do “crash” atingiram-se níveis de depressão que fizeram anunciar, como agora em 2008, o espectro de 1929. Com o aviso de que só 25% das empresas da “economia-net” sobreviriam o reajustamento prevaleceu e com eles o bom senso evitou ,tal como nas revoluções, que nesta revolução económica os seus filhos fossem devorados.
Mas não foi devorada a Globalização.
Debelada a crise esta veio para ficar e a “economia real” passou a ser uma miragem ao pé da “economia virtual”
(Continua)
Manuel Duran Clemente
Almadena 23.03.08
domingo, 1 de maio de 2011
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