domingo, 1 de maio de 2011

AS RAÍZES DO TEMPO E DO PENSAMENTO

REFLEXÕES: DOS CLAUSTROS À MADALENA

As raízes do tempo e do pensamento

A matéria que se transforma, enleia-se, sem se perder,nas raízes que consolidam o que já existe.
vem da nossa época escolar no “Pilão” a aprendizagem da célebre teoria de Lavoisier

"na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma"


É pois com este axioma (que tem por base a teoria infinita) que ouso admitir que, ao nível do tempo e do pensamento, os passos da nossa evolução forjam as suas raízes. A partir daqui fala a vida,com altos e baixos,alegrias e tristezas...qual “Phoenix”que se reergue para voar...por entre “tempos” e “pensamentos”...

É quando não existe nenhum principio efectivo de unidade da vida social e política que os “pensadores” intervêm. Foi primeiro para condenar um poder político ou religioso que impunha à sociedade decisões arbitrárias ou escandalosas; mas, depois e cada vez mais à medida que apareciam os actores sociais e que se se estendia a democracia, os “pensadores” intervieram nos conflitos e nos debates sociais para evidenciar o sentido destes. Em situações de crise ou de dependência esse sentido era ocultado por ideologias impostas pelas classes dirigentes ou pelos partidos que falavam em nome do povo, da nação ou das massas.Bem entendido, existem diversas figuras de “pensadores”. A mais clássica, e talvez também a mais visível, é a do “pensador” denunciador, cuja atenção se concentra totalmente na crítica do sistema dominante. Revela o que se esconde por trás de discursos moralizadores e o sofrimento dos que são explorados, alienados e manipulados.
Na “velha Europa” Boudier, Sartre, Fanon, Genet, Althusser, distinguem-se neste grupo. Mas foi sobretudo Foucault, quem destes, melhor juntou o pensamento crítico a uma obra de grande qualidade intelectual. O segundo tipo de “pensadores”, é o dos que se identificam com determinada luta ou determinada força de oposição e se tornam seus “pensadores” orgânicos. Têm a satisfação de serem vedetas de reuniões, de “foruns” internacionais e titulares de “caixa alta” nos “media”. A quebra acentuada da “ideologia” atinge-os com violência. Não participam na elaboração do sentido da acção e limitam-se a testemunhos. O seu papel sendo limitado é importante porque exprime uma vontade: a solidariedade com certas categorias sociais privadas de palavra que poderia ser facilmente absorvida pelo “establishment”.Para além destas há os “pensadores” que exercem o seu ofício, que é analisar e compreender, procurando o sentido das acções que apoiam ou as que se opõem. Mas só se poderá falar relativamente a eles de “pensadores” (e não apenas de peritos ou de profissionais) quando a sua palavra e os seus escritos estão ao serviço duma critica do poder, ou, mais directamente duma força de oposição e de protesto. Acreditam na existência, na consciência e na eficácia dos actores, ainda que conheçam as suas limitações.A situação desses “pensadores” é difícil: acreditam nos actores, mas guardam distância em relação a eles.Ora, os militantes preferem muito mais os “pensadores” que denunciam os abusos dos seus adversários àqueles que analisam a sua própria acção, mesmo quando o fazem como aliados.André Malraux é a figura mais emblemática desta terceira categoria de “pensadores”. Foi interveniente e deixou obra.
Este tipo de “pensadores” só podem actuar no interior de uma sociedade democrática. Quebram as falsas unidades e procuram identificar os desafios mais importantes da acção colectiva.Existe, por fim, uma quarta categoria de “ pensadores”. Podem qualificar-se por utopistas, no sentido positivo do termo, pois se identificam com as novas tendências da cultura, da sociedade ou da existência pessoal, e tornam-nas mais visíveis. Edgar Morin é talvez o mais criativo deles.Falou-se frequentemente no “fim dos pensadores”. Não é verdade. Mais acertada será a tese do “silêncio dos pensadores” no princípio dos anos oitenta. O silêncio podia estar carregado de “recusa”, com sistemas e actores, ainda em análise.Após a queda da U.R.S.S., vieram anos de decomposição da acção política durante os quais se fizeram ouvir os denunciadores da ordem dominante, mas também a análise dos chamados “pensadores intérpretes”.Todas as famílias de “pensadores” podem coexistir.Tal facto até revigora o debate intelectual.Na situação presente as nossas sociedades têm pouca unidade, não se conformam com nenhuma lógica hegemónica e estão cada vez mais divididas.Geram-se nesta situação novas formas de acção e de pensamento cuja emergência é preciso descobrir, mas estendem-se igualmente às zonas de exclusão que os denunciadores alertam. A única família de “pensadores” que se enfraquece actualmente, parecendo em vias de extinção, é a dos “ideólogos orgânicos”. No fundo não reconhecem nenhum lugar aos outros. As suas filosofias da história e a confiança nas “suas fechadas organizações” estão de facto em declínio. Podem perigar a democracia?Talvez! Existem ainda os que encontrando-se no beco “já tudo julgarem saber”, nunca reconhecerão que “quanto mais sabem e lhes forneceu a análise, mais sabem que menos sabem...e o que lhes falta ainda analisar...!”.Esta categoria pseudo-pensante nem bastarda é de qualquer das categorias, neste texto, alinhadas como “pensadores”. Sem desprimor para os “sérios e bons profissionais” são “jornalistas”, “copy-righters”, ”profetas tabeliães”, “escrivães do politicamente correcto”, “leiloeiros de adjectivos e labéus” e até “carcereiros do diálogo”.Vivem sob a capa protectora da democracia mas nada terão a ver com estes “pensadores”.O relativo silêncio das últimas décadas explica-se pelo encerramento dum período histórico. O retorno dos “pensadores” está associado à substituição da análise dos sistemas pela interpretação dos actores.Esse retorno está, portanto, ligado a uma renovação e reforço do espírito democrático; sobretudo à defesa dos direitos fundamentais: liberdade, igualdade e solidariedade (fraternidade).

( 23 de Agoosto de 2009)

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