Partilhado da minha filha Rita .Belíssimo texto.Saudades.Pai.
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«Quando penso em felicidade ainda penso nos fins-de -semana e férias que passei num antigo estábulo transformado em casinha perto da aldeia do meco. A minha mãe não tinha carro e chegar lá era uma aventura que implicava apanhar o comboio, atravessar o rio, apanhar o autocarro e fazer uma caminhada a pé com os cães da aldeia. Felicidade era andar de bicicleta pelas estradas de terra batida, brincar no pinhal e nas figueiras, imaginar bruxas e doendes, fazer a minha casa ao ar livre, andar descalça, assistir ao despontar da horta, cozinhar grelhados. Felicidade era o amanhecer de prados de flores amarelas e um burro lá longe através dos quatro vidrinhos da minha janela. Felicidade era virem-nos deixar pão quente e laranjas à porta. Sempre que imagino a felicidade regresso a este local onde me deixava enrolar nas ondas, onde me cobria de argila e onde as dunas para mim eram as pirâmides egípcias, onde o meu pai fazia flores da prata dos maços de cigarros e colheres da tampa do iogurte. Penso nos filhos que gostaria de ter tido num local assim. De lhes dizer que o conhecimento é a coisa mais fascinante e que nunca acaba. Que gostaria de correr e trocar gargalhadas com eles, de lhes dizer que as pessoas mais belas e excelentes acabam sempre sozinhas, que
aprendam linguas e viajam, sejam simples e se comovam com as coisas belas, que sejam estrelas pequeninas no universo. Nessa estrada de terra batida em que a minha mãe virou uma papoila ao contrário e me mostrou uma menina vestida de vermelho com esse encanto que só ela tem imagino-me ainda com os meus filhos que já não terei, ai onde na liberdade e na natureza, na maior das simplicidades, fui feliz.»Rita B. Clemente.
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Desenho meu ,a lápis, da Rita com 6 meses.
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