Tenho referido que houve crimes na guerra colonial de ambos os lados na guerra colonial e já referi este caso como um crime bárbaro. Faltavam-me os pormenores que hoje partilho.
Tive, em Bissau, uma discussão com Vasco Cabral (nos anos 80), de quem fui muito amigo, sobre isto e fiquei desiludido porque ele confirmou esta barbárie como um acto positivo da parte do PAIGC. Fiquei muito desiludido. Nós pensávamos que tinha sido um impulso dum louco guerrilheiro. E Vasco Cabral , economista, Ministro do Plano e Economia, e um ilustre da Casa de Estudantes do Império em Lisboa, então casado com a economista Luísa Gabão/conhecidos em Argel, era um senhor com princípios. Esta sua confirmação e posição magoou muito a minha sensibilidade. Lamento e condeno.MDC.
Da página de facebook do António Graça de Abreu, à atenção do senhor Mamadu Ba e demais "activistas" com palas nos olhos.
"É a guerra aquele monstro que se sustenta de fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta.
Padre António Vieira (1608-1697)
A propósito de crimes de guerra cometidos na guerra da Guiné, escrevi no meu Diário de guerra, em Teixeira Pinto (Canchungo), a 18 de Agosto de 1972:
No dia 20 de Abril de 1970, os três majores deste nosso CAOP 1 ( Comando de Agrupamento Operacional 1) Magalhães Osório, oficial de Informações, Pereira da Silva, oficial de Operações e Passos Ramos, chefe do Estado Maior, mais o alferes Joaquim Mosca e dois assalariados negros, Aliu Sissé, Lamone e Patrão que serviam de intérpretes, foram brutalmente mortos na estrada entre o Pelundo e o Jolmete.
Há dois anos atrás, dando corpo à política do general Spínola da “Guiné Melhor” e pacificação do chão manjaco, enveredou-se por uma estratégia político-social de que o CAOP 1 seria também executor, tentando-se convencer alguns comandantes militares do PAIGC a depor as armas, trazendo-os para o nosso lado e criando-se condições para a inserção harmoniosa desta gente numa nova Guiné, moderna, de paz e progresso para todos. Realizaram-se várias reuniões entre os três majores do CAOP 1 e os guerrilheiros, o diálogo parecia começar a dar frutos. O general Spínola participou também num dos encontros e estava disposto a negociar o fim da guerra com o próprio Amílcar Cabral. Avançar-se-ia para uma Guiné com autonomia, uma espécie de soberania partilhada entre negros e brancos. Não era essa -- nem é hoje, -- a linha política do governo de Lisboa, nem do PAIGC que lutava pela independência total e expulsão dos colonialistas brancos.
No dia 20 de Abril de 1970, os três majores, o alferes e os intérpretes saíram desta casa, sede do CAOP 1, em dois jipes para mais uma reunião secreta com os chefes dos guerrilheiros. Passaram o Pelundo e avançaram desarmados, sem escolta, em direcção a uma pequena floresta, no caminho para o Jolmete. Era o lugar combinado, já utilizado em anteriores encontros. Os guerrilheiros estavam lá, à espera dos militares portugueses, desta vez não para negociar mas para os matar. Os oficiais do CAOP 1 partiam confiantes ao encontro dos guerrilheiros, sem uma única arma. Foram todos cobardemente assassinados com tiros na nuca, armas brancas e os corpos, retalhados, esquartejados.
Fui agora buscar ao blogue LuisgraçaecamaradasdaGuiné, de 23 de Maio de 2020, post 21000, a seguinte informação, sobre a acta da reunião de topo do PAIGC, creio que realizada em Conacry, escrita por Vasco Cabral, onde a morte dos majores é exaltada por "Amílcar Cabral como uma enorme proeza de guerra, um acto heróico, matar militares desarmados que iam numa missão de paz. O original encontra-se no arquivo da Fundação Mário Soares, Aí vai:
Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, em 11 e 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral.
Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai.
Secretário: Vasco Cabral.
Disse: Amílcar Cabral – "Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos nossos camaradas do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim três majores, três oficiais superiores que, nas condições da nossa luta, equivale à morte de generais."
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