«Uma Guerra colonial sem Anjos nem Arcanjos, MRSousa! E ala parlamentar do PS ( quase toda!) desafio-vos a uma conversa sobre a guerra colonial
Chegado a Luanda regressado do Puto ( como se dizia quando referíamos Portugal) depois de uma viagem de barco que demorou 15 dias e ali em cima do 4 de fevereiro e do 15 de março de 1961 ouvi o meu pai dizer o que nunca mais esqueci onde eu vou vai a minha família perante o histérico desespero de um colega que o recebia no porto de Luanda nas horas terríveis depois do levantamento popular angolano pela Independência!
A razão do desespero era só uma - a UPA ( a de Holden Roberto e a do cónego Manuel das Neves) depois do massacre da Baixa do Cassange e incentivados pelo assalto ao paquete “santa Liberdade” do capitão Henrique Galvão e Camilo Mortagua tendo por detrás o general Humberto Delgado e quase toda a oposição portuguesa ao fascismo já que o paquete deveria atracar em Luanda!
A guerra colonial não teve um arranque mplista mas sim digamos um quase espontaneo liderado por um padre católico ligado autonomamente à UPA e com fortes relações com a oposição lusa em Luanda!
Daí os 3 momentos a greve na Cotonang na Baixa do Cassange, que culminou com um massacre e bombardeamentos a napalm originando algo entre 2000 a 10 mil mortos, a 4 de janeiro de 1961 a tentativa de libertação com catanas dos presos políticos angolanos a 4 de fevereiro de 1961 e o ataque às fazendas de café a 15 de março de 1961 o único momento realmente planeado organizado e executado e mesmo assim em lógica espontaneista e mal armado mas muito violento, brutal até!
Entretanto em Lisboa o ministro da Defesa general Botelho Moniz ( aquele de devia ser homenageado) tentava com o apoio do embaixador dos EUA travar o desastre iniciado na India Portuguesa incentivando uma saída via uma Descolonização estruturada a medio prazo que o regime do salazarento bloqueou com um golpe de estado anti Botelho Moniz!
Esse desastroso golpe de estado impôs a perdida guerra colonial gerida sem rei nem roque durante 13 anos que quem a viveu sabe quão absurda foi!
Deixemos aqui a memória de 3 horríveis momentos dessa estupida e derrotada guerra colonial e goste ou nao a direita castrense e mesma não tem ponta onde se pegue pois nem sequer foi desenvolvida na lógica do criarem-se as condições para a Paz politica (e a Descolonização à Commonwealth) desejada por largos setores da Oposição portuguesa e por setores dos movimentos nacionalistas!
A- Pidjiguiti Guiné Bissau
Em agosto de 1959 os marinheiros e estivadores do Porto de Bissau ao serviço da Casa Gouveia(CUF) no cais de Pidjiguiti entraram em greve por melhores salários e condições de vida e logo a 3 de agosto, já quando a Casa Gouveia tinha aceite as reivindicações dos trabalhadores, o administrador do porto de Bissau, António Barbosa Carreira entendeu que só daria seguimento à ordem quando lhe apetecesse, levando ao prolongamento da greve, seguindo a linha da pior arrogância colonialista!
Como em quase todos os momentos de tensão não se sabe o que levou ao primeiro tiro mas relatos dos estivadores pelas 15h45 desse dia um marinheiro, por nome Augusto, pegou num barrote para se sentar e no enervamento o cabo de mar Nicolau assustou-se e disparou sobre o marinheiro.
A Pide presente, o cabo de mar ,outras forças puseram fim à greve, abrindo fogo sobre os grevistas durante horas até às 18 horas gerando entre os quarenta e os setenta, mortos e cerca de cem feridos.
Tudo isto aconteceu antes de se pensar em uma guerra colonial..
B - Baixa do Cassange
A revolta da Baixa de Cassanje começou em Outubro de 1960, também com um processo reivindicativo e quando os camponeses se recusaram receber sementes para plantarem em Janeiro dados os abusos sistemáticos da belga Cotonang!
A 4 de Janeiro de 1961 nasce a Revolta da Baixa de Cassanje, uma luta de milhares de trabalhadores dos campos de algodão da companhia luso-belga Cotonang que viviam em duras condições de trabalho e de vida e sob uma violenta repressão armados de catanas e canhangulos (espingardas artesanais) e ,é contra estas “armas”, que a força aérea portuguesa lançou bombas napalm provocando milhares de mortos.
A Cotonang era uma companhia de algodão luso-belga, uma concessionária para plantio de algodão que forçava os camponeses a cultivarem as fibras a preços irrisórios com os agricultores sem salário a serem forçados a vender a sua produção por um valor muito abaixo do preço no mercado mundial.
Pior , o dever imposto de plantar algodão dificultava as famílias de cultivarem seus próprios alimentos mantendo a sua economia de auto-suficiência.
Testemunha o sociólogo e poeta Arlindo Barbeitos, que lutou pela independência com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e hoje bem esquecido por este partido:
“As pessoas eram obrigadas a plantar algodão e era absolutamente indiferente que houvesse colheita de milho, massambala (sorgo), batata-doce, mandioca, feijão, aquilo que as pessoas comiam. Não importava, a colheita do algodão tinha que ser garantida. E o algodão só podia ser vendido a uma determinada empresa que tinha o monopólio, as balanças eram falseadas e o preço era baixíssimo. Se não produzissem o algodão devido, eram espancados. Isso são coisas que eu vi”.
A revolta, era grande e os agricultores destruíram plantações, pontes e casas e o poder colonial contra atacou com aviões da Força Aérea Portuguesa, que lançaram bombas de napalm sendo que como se disse acima o número de mortes varia de dois mil até dez mil agricultores.
Um ano depois uma brigada dirigida pelo meu pai um Republicano da linha de Cunha Leal foi à Baixa do Cassange onde tudo estava destruído em terra queimada e um louco de um motorista me ia dizendo nos meus 11 anos aqui matamos à rajada n pretos, ali foi à granada , acolá enterramos n corpos... sei lá uma hora a ouvir um Louco aparentemente em resultado de ter participado na loucura!
Nunca esqueci esse dia!
Wiriamu
Este drama viveu-se a 16 de dezembro de 1972 e porque dois capitães, comandantes de companhia, morrerem num jipe que pisou uma mina anti-carro.
Deste incidente de guerra resultaram 385 pessoas assassinadas pela 6ª Companhia de Comandos de Moçambique do regime salazarento e desconhece-se os que morreram durante a "limpeza" do local, que ocorreu nos três dias seguintes ou devido aos interrogatórios que seguiram o episódio.
Na altura as forças militares portuguesas pretendiam acabar com a presença da FRELIMO na região da cidade de Tete por causa da barragem de Cahora Bassa que ,então em construção, enquanto que a FRELIMO declarava que iria impedir a construção.
Os portugueses dizimaram um terço dos 1 350 habitantes de cinco povoações a ver Wiriyamu, Djemusse, Riachu, Juawu e Chaworha numa área denominada de "triângulo de Wiriyamu", e afetando um total 216 famílias em quarenta povoações.
A chamada Operação Marosca foi instigada pela Pide e dirigida pelo agente Chico Kachavi, assassinado mais tarde, enquanto o massacre era investigado.
Ver o PS envolvido neste avacalhamento da luta anti colonial tornou mais firme ainda a minha decisão de ter saído do PS depois do pacote laboral à Vieira da Silva! ... e falam vocês do papa Francisco quando se deveriam envergonhar pois ele retomou o pão em vez de armas pelo que ver católicos a homenagearem um terrorista é demais! Como se revoltará Mario Soares perante esta votação do PS!
Mas fica o desafio que claro não terá resposta!
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· Responder : Manuel Duran Clemente ,capitão de Abril:
Joffre Antonio Justino. Grande depoimento. O PS deu um tiro no pé e a maior parte destes comentários,na dita A VOZ SOCIALISTA,são um nojo. Disfarçam a infeliz opinião de Ascenso sobre um monumento, com o que na verdade esteve em causa na AR ou seja o PS ,junto à direita, aplaudir crimes de guerra e indirectamente o salazarismo e o colonialismo. Um nojo.