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3.Não posso esconder que os tempos vividos na Academia já eram outros. Comprometiam-nos outras responsabilidades perante o país amordaçado. E começou em mim a construir-se a ideia de que não era nem este país nem esta vida que queria abraçar. O país iria mudar significativamente 12(doze) anos depois. Quanto a mim, eu iria «saltar o muro» num Maio de 1962 das instalações da Academia, na Amadora, numa noite de denso nevoeiro. Fugi para perto de Sagres sonhando com outras naus: ser castigado (q.b.) o suficiente para ser expulso.
Foi o meu querido pai, assustado, que me encontrou, ao fim de quatro ou cinco dias; deu-me a maior reprimenda do mundo e trouxe-me de táxi para a Amadora .O general comandante da Academia quis ter uma conversa comigo e levou o caso para um acto de paixão “amorosa” (já que eu tinha resolvido ir acompanhado com uma namorada).Depois de longo discurso sobre os «desvairamentos passionais» (segundo ele) acabou por me dar uma sanção que não atingia os limites, tendo levado bastante em conta o bom comportamento anterior e o meu passado de bom aluno e militar no Pilão. Ainda rebati argumentando como pude, mas nada. Moral da primeira parte da história: o General foi advertido de que o melhor era eu integrar os candidatos ao concurso literário entre Academias Militares Portuguesa e Espanhola que se realizava de dois em dois anos. Constava que eu sabia escrever.Assim fui convidado/obrigado pelo próprio comandante. O tema principal era «Camões e Cervantes, “o homem, a obra e a época”» respectivamente para cada lado. Os debates sobre as duas figuras literárias iriam realizar-se em Saragoça -na Real Academia Militar Espanhola- em Novembro. Passei ,sob o ponto de vista escolar e formação militar, a ano lectivo. Em trinta cadetes só passamos sete, no meu curso especial de Administração Militar. Muitas das noites das férias grandes as fiz a investigar e a escrever sobre Luís de Camões. A minha namorada (da fuga inglória) dactilografou o texto.
Segunda parte da história. Com surpresa de todos (e até minha) fui o vencedor deste concurso no tema principal. O que costumava ser quase sempre prémio para alunos de Engenharia coube com orgulho e vaidade a um Pilão de Administração. Tudo correu muito bem por terras de Espanha e o mesmo General comandante que me castigara antes atribui-me um copioso louvor seis meses depois pela qualidade e brilhantismo dos escritos e das intervenções em terras de “nuestros hermanos” por Saragoça, Huesca, Madrid e Toledo que visitamos, como sedes de especialidades de formação académica militar.
Acabaria por concluir os quatro anos de curso. Fui primeiro classificado do meu. Esperei demasiado ,para mim, pois só em 1969 fui obrigado à primeira comissão colonial/Moçambique. Mais tarde por ter escrito, como já referi, um manifesto em 1973, quando já empenhado e comprometido com a oposição ao regime, acabei “castigado” e forçado a ir para outra comissão na Guiné. Tive a oportunidade de, com outros capitães, forjar a “Alvorada da Revolução” de 25 de Abril.
Voltei a fugir, com sucesso, na sequência dos acontecimentos dum nebuloso «25 de Novembro de 1975». Encontrei-me na posição de exilado do meu país e dos meus familiares e amigos, apesar de, em pouco mais de 10(dez) anos de oficial militar, ter sido agraciado com a medalha da Ordem Militar de Avis (Cavaleiro)e a Medalha de ouro da CruzVP, ter tido 5(cinco) louvores de Oficial General e outras distinções. Profissionalismo e dedicação puros, abnegados em honra do espirito nascido/crescido no Pilão, presente e mantido até hoje, nas ondas que o mar faz e delas cantam o amor à vida real que quis vincar em luta com as contradições desta sociedade.
Até hoje. Até sempre.
Regressei oito meses depois e fui bem acolhido pelo meu país e suas gentes que nem sempre se deixam toldar ou manipular completamente.
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Das histórias (ou meias histórias de vida), quer mesmo no Pilão e amigos vizinhos (Casas da Fronteira e Alorna e outros) e o que desde 1961, o sulcar da vida me trouxe, ficam quase 60 (sessenta) anos por contar. Outras histórias, noutros depoimentos, tenho contado e o farei com o coração aberto á fidelidade de ser honrado Pilão , disfrutando a alvorada da casa bela e ridente, que sempre teve por lema seu : QUERER É PODER!
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Manuel Duran Clemente, coronel do SAM ref. Ex.aluno IPE- 30/1953
O autor não respeita o A.O.
(*)”Jovens turcos”-expressão oriunda da Turquia grupos ou facções que reivindicam agressiva ou impacientemente reformas no interior de uma organização, lutando contra o conservadorismo instalado da velha guarda para impor uma nova visão, mais moderna e renovadora.
(**)Alunos e alunas uma vez que estas passaram também a ter acesso depois do 25 de Abril.
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Academia Militar (O.S /30/1963) --Colóquio em Novembro de 1962............Louvor.
Louvado por Sua Exa. o General Comandante da A.M., porque tendo tomado parte no Concurso aberto na Academia para elaboração das duas teses e apresentar pelos seus alunos no II Colóquio com a Academia General de Saragoça, obteve a melhor classificação no trabalho que apresentou em uma delas, com o título: “ Camões: o homem, a sua época e a obra “. Neste trabalho o Cadete-aluno Santos Clemente manifestou, além, de viva inteligência, uma capacidade de investigação, um poder apreciável de análise e síntese e marcada elegância na redacção que são tanto mais de realçar quanto é certo que os alunos dispuseram de tempo relativamente curto para o estudo da vasta bibliografia sobre Camões e Cervantes, e para a completa elaboração do seu trabalho, que em grande parte teve de ser realizada durante os períodos lectivos paralelamente aos trabalhos escolares. O brilho e poder de argumentação que o Cadete Santos Clemente revelou nas duas intervenções durante os debates do colóquio, constituíram outra faceta que julga dever focar, porque permite augurar-lhe futuros êxitos em actividades culturais designadamente nas de discussão e polémica e merece, por isso, uma palavra de caloroso estímulo que lhe dirige com muita satisfação. ( O.S. da A.M. nº 30 de I963 ).
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