- (1) -Os capitães para “fazerem” o 25 de Abril tiveram que se organizar. Uma das bases dessa capacidade foi a estreita unidade conseguida em torno dum objectivo, com duas razões:* acabar com a Guerra Colonial* libertar o país da Ditadura:Uns, mais pela primeira das razões e outros, pela segunda que implicava a concretização da primeira.Essa tarefa de agregação de esforços e de vontades, entre os militares, começou a tomar forma mais consistente em meados do ano de 1973,depois do Congresso do MDP/CDE em Abril (Aveiro) e sobretudo depois da contestação “dos futuros capitães do MFA” ao Congresso dos Combatentes em Junho (Porto) e à publicação do célebre Decreto-Lei nº353/73.Os núcleos dinamizadores desta contestação formaram-se com especial significado na Guiné-Bissau e em Portugal, espalhando-se imediatamente por Angola e Moçambique. Como os militares acabavam as suas missões nas colónias e outros partiam para elas, o intercâmbio entre este movimento, cedo se tornou uma realidade séria e no final de 1973 estavam os capitães decididos a derrubar o sistema, a ditadura!Não sem que muitas peripécias tivessem acontecido, até se chegar ao dia da Liberdade, mas foram controladas e neutralizadas ou asfixiadas pela organização e unidade do MFA. Sobre isso está quase tudo escrito. Quase…!Alguns dos sobressaltos havidos antes do 25 de Abril de 1974, curiosamente, já eram um indicativo do que haveria de vir a acontecer entre o 25 da Abril (74) e o 25 de Novembro (75), muito em particular no que concerne à tão falada e propalada (e verdadeira) divisão entre os militares…!Spínola já fazia avançar os seus homens…para travar os objectivos mais amplos do MFA. Otelo (que começou a conspiração comigo e outros [Salgueiro Maia, por ex.], em Bissau) já denunciava algumas das suas características, e entre os futuros “ MeloAntunistas” e “Gonçalvistas “ era nítida a influência de posições ou simpatias ideológicas, do tipo confronto MDP/CDE(PCP) e CEUD(PS).Duas correntes que conseguiriam estar unidas em questões essenciais…até 28 de Setembro mas cujo percurso comum iria acabar…e acabou quando, no ultimo trimestre de 1974, resolvida a estratégia Politica (democratização e descolonização) se teve de acertar o passo na estratégica Económica (desenvolvimento)…. E não se conseguiu.Agudizou-se com a reprovação do Plano Económico Melo Antunes/SEDES…em Fevereiro de 1975 e veio a ser mais contundente com a provocação da “Spinolada” do 11 de Março…que permite aos Gonçalvistas e forças politicas aderentes (mas também aos mais radicais, Otelistas e outros) tentar avançar com os seus projectos de cariz muito mais revolucionário. Nasce o Conselho da Revolução, avançam nacionalizações de sectores fulcrais, a tentativa de uma reforma agrária a sul do país e tenta-se que um projecto inovador, de cariz sócio/politico, tenha pernas para andar.Com as eleições para a Constituinte…em que o MFA, com alguma ingenuidade, se faz promotor do SOCIALISMO…(ver cartazes da época) veio a vitória nas urnas dos socialistas, a surpresa(?) de poucos votos para os comunistas e de um nº significativo para os partidos da direita…(revelando um pouco a consequência do obscurantismo e dos fantasmas de meio século de ditadura e de forte influência do clero e de caciques regionais) .Mas a Democracia representativa é isto mesmo…!!!Só que a esta democracia respondiam outros ânimos que consideravam (mal ou bem) não dever perder, nos actos burocráticos e formais, aquilo que “as portas de Abril” lhe tinham aberto.Respirava-se, sentia-se… que os poderosos, que haviam perdido privilégios, se organizavam para os recuperar…e tudo iriam fazer, com justificações habilidosas (entre as quais o papão do comunismo e da guerra civil)…e tudo fizeram para colocar os militares do MFA à zaragata, uns contra os outros, não sem a forte colaboração dos militares(quarta corrente) os “spínolistas” e os que tinham estado de fora da conspiração e da acção libertadora.Todo o chamado Verão quente é incendiado por acentuada dissidência entre os que queriam reformas profundas no sistema e os que se contentavam com uma leve brisa de revolução…Uns entenderiam que as organizações de base populares, em são convívio com os partidos e uma disciplina militar consentida, poderiam ser os pilares da arquitectura dum sistema político-social outros satisfaziam-se com os modelos tradicionais duma Europa…mais rica e preparada.Em paralelo aos avanços revolucionários dos governos de V.Gonçalves caminhavam os militares “ditos moderados” e a eles se juntaram todas as forças políticas das mais conservadoras (provocadores, extrema-direita, saudosistas, etc.) às mais de centro-esquerda …(onde caberiam muitas e diversas tendências com graus de consciencialização política díspares).A partir do momento que se permite que a direita e os saudosistas do passado cavalguem a seu belo prazer e [ com apoio directo e/ou indirecto dos militares “ditos moderados”(onde já cabe tudo)] iniciem uma “cruzada” contra os partidos mais à esquerda paradoxalmente também começam (os mesmos/a direita) a propalar a iminência dum golpe de esquerda…(a criação duma comuna de Lisboa,etc.etc.!!!)…Tal ideia parece não ter sentido, mas tem!Estava criada a justificação para se preparar exactamente o golpe contrário. Chamar-se-ia um golpe de defesa para rechaçar o outro. E tudo se preparou.Basta ler o livro editado em 1976 pelo Comandante Gomes Mota “A Resistência/Verão Quente”.Este conta todos os pormenores. E nos anos mais tarde Melo Antunes, Jaime Neves, Ramalho Eanes e mais recentemente Vasco Lourenço e Sousa e Castro não se coíbem de narrar pormenores.Vasco Lourenço (V.L.) afirma que (os preparadores do golpe defensivo) não tem outros objectivos se não os de conseguir que a Assembleia Constituinte culmine os seus trabalhos. Que os objectivos divulgados de:- afastar Fabião e Otelo, controlar o SDCI(Serviço de Detecção e Controlo de Informação) ,criar o AMI(Agrupamento Militar de Intervenção/órgão superior ao COPCON),destruir a 5ªDivisãoEMGFA,alterar a politica com o MPLA, controlar a comunicação social, resolver os casos Republica e Renascença, eram os objectivos dum plano designado “o Plano dos Coronéis”.(CONTINUA) Cap DClemente.5
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Online - (2)-Mas à pergunta da entrevistadora (ver páginas 501 e 502 do seu livro, do “Interior da Revolução”- de Tancos ao 25 de Nov.) de quem eram os Coronéis, ele responde:” «Ramalho Eanes, Tomé Pinto, Aurélio Trindade, Loureiro dos Santos, o José Pimentel e todos os que se vêm a envolver no 25 de Novembro, que estavam no grupo Militar.” …. “as pessoas eram as mesmas. Porque diz então que não eram o mesmo plano?” Retorquiu a entrevistadora.Resposta de V.L.:«Pela nuance que já lhe referi. No 25 de Novembro, não assumimos a iniciativa de ataque..»Como se vê esta justificação não colhe…E quem dá o pretexto para que este golpe se efectue : seria a saída dos Páraquedistas de Tancoos? É de facto.Mas é também isso que os páraquedistas tentam explicar na RTP no dia 25 de Novembro, à tarde, quando me pedem para lhes facultar o acesso à RTP em Lisboa.Para eles era uma mera reivindicação e manifestação contra o seu CEMA, Chefe do Estado Maior da Força Aéra, General Morais Silva e que aliás é explicada no comunicado que emitiram a 27 de Novembro em Tancos!Quem os faz sair ???Numa entrevista, há dez anos, ao Público V.L. diz que Otelo lhe confessou ter sido ele. Mas mais tarde nega.Mas esta é uma falsa questão.A questão é que a esquerda não tinha em preparação qualquer golpe. Mas ao invés o outro lado tem.A questão é que os poderosos de então ( da mesma família dos poderosos de hoje)tiveram o braço amigo de uns quantos imprudentes e de todas as forças reaccionárias nacionais e internacionais; tudo fizeram para travar a genuína REVOLUÇÂO PORTUGUESA e iniciaram um processo que podia estar para o 25 de Abril como o 28 de Maio de 1926 esteve para a 1ª República…e só não foi assim porque os tempos e as circunstâncias eram muito diferentes.E ainda porque alguns militares se deram conta dos perigos que eles próprios corriam…e conseguiram travar fortes ímpetos de vingança. É disso paradigmática a intervenção de Melo Antunes e a acção de militares do MFA do grupo moderado: Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Pinto Soares, Victor Alves, Mário Crespo, Franco Charais e outros.E não foi isso, também, porque as forças progressistas não desistiram nem desistem e têm lutado com todas as suas forças e os meios disponíveis…apesar da insistência com que o sistema capitalista selvagem e predador, com as suas manhas e capacidades, tenta abafar e liquidar a nossa liberdade ,matar o nosso 25 de Abril…que teremos de abnegadamente fazer e reconquistar dia a dia!!!Há vitórias, há derrotas…nas batalhas…uma guerra ganha-se lutando…Manuel Duran Clemente 25 de Novembro de 2011
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