O Burnay foi à tosquia e saiu tosquiado
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General Carlos Branco, in Facebook,
25/08/2022)
(Henrique Burnay respondeu ofensivamente
ao texto do General Carlos Branco que publicámos aqui.
A resposta que teve e que segue abaixo é
demolidora e pedagógica. Parabéns Senhor General. Que não lhe doa a pena e o
verbo para desancar em tão ignara e servil gente.
Estátua de Sal, 26/08/2022)
Julgava o tema esgotado, mas parece que
não. Tenho bloqueado quem neste mural ofende ou faz agressões verbais. Hoje
tive de abrir uma exceção ao post do Dr. Henrique Burnay (HB), que veio ao meu
mural apelidar-me de “vergonha de homem”. HB anda a ofender-me nas redes
sociais, que lhe são próximas há meses (chama-me pulha e outros mimos). Hoje
teve a desfaçatez de o vir fazer no meu mural do FB. Nunca o ofendi. Não é que
não me faltasse vontade e pretexto. Procuro centrar-me no debate das ideias, e
não em coisas ou pessoas. Neste tema, como noutros, encontramo-nos muito
distantes.
A vinda HB ao meu mural suscita-me dois
tipos de comentários. Um de natureza pessoal, neste caso incontornável, tendo
em conta o seu comentário, e outro sobre a guerra na Ucrânia. HB é um dos
exemplos mencionado no meu post inicial, de quem tem vivido à babuje do
sistema, ao colinho e encostado ao poder, beneficiando das suas benesses e
mordomias, de quem tem sempre dependido para viver. Entre outras coisas, foi
assessor político de um deputado ao Parlamento Europeu (posteriormente seu colega
numa empresa de lobbying) e assessor de uma ministra da justiça, que num ápice
se transformou em banqueira, na Caixa Geral de Depósitos, coincidentemente com
um período de festim que levou o banco quase à ruína, e que nós tivemos de
chegar à frente e pagar a capitalização do banco. HB faz parte, ou gostaria de
fazer parte da elite a que refiro no post inicial, a tal que nos conduziu onde
nos encontramos como sociedade e como país. Também aqui nos encontramos a
léguas de distância.
HR apresenta-se no seu CV também como
professor universitário, convidado, de Lobbying. Convidado! O lobby dá de facto
um jeito do caraças. O colinho do poder dá um conforto porreiro. Facilita mesmo
muito a vida. Por isso, há que não agitar o status quo, para não perturbar a
árvore das patacas.
Quanto à Ucrânia, mais alguns
esclarecimentos para o HB. E estes são mesmo os últimos. Apesar de o ter
reiterado inúmeras vezes nos artigos que tenho vindo a escrever, para que não
restem dúvidas, a guerra na Ucrânia é uma condenável violação do Direito
Internacional. Como são quase todas as guerras, tendo como referência a Carta
das Nações Unidas. Como foram a invasão de Grenada (1983), o ataque à
Jugoslávia (1999), a Guerra no Iraque (2003), a guerra na Síria (2011). O leque
de violações não acaba aqui, curiosamente perpetradas sempre pelos mesmos.
Estou curioso por ver o que HB escreveu sobre o Iraque, em 2003. Não passados
20 anos quando já sabíamos todos qual tinha sido o fim da história. Apoiou
sanções e a ostracização dos EUA? algo parecido com o que está a acontecer
agora? Ou limitou-se a condenar baixinho em murmúrio?
Convenientemente, HB finge que não sabe
o que são guerras por procuração. Devia ter estado mais atento para perceber
que estamos perante um conflito entre os EUA e a Rússia (e a China) para
impedir a alteração da correlação de forças mundial. Como os EUA sabem quais
poderiam ser as consequências de uma confrontação direta com estas duas
potências, confronta-as recorrendo a proxis. Não morrem americanos, dá-se-lhes
apoio político e financeiro. Falamos, pois, de um conflito entre a potência que
defende o status quo e as potências revisionistas, correndo nós o risco de
sermos arrastados todos para a hecatombe.
Ver os acontecimentos apenas pela lente
do mau (agressor) contra o bom (a vítima), é uma forma básica e simplista de
ver o problema. É boa para a propaganda, mas insuficiente do ponto de vista
explicativo. HB tinha por obrigação de ver mais longe. É um tipo com mundo. Mas
também percebo porque não quer ver. Ai o lobbying! Corria o perigo de perder o
emprego e o negócio. A guerra na Ucrânia tem muitas dimensões, uma delas a de
guerra civil, que começou em 2014. Tenho escrito muito sobre o assunto, não me
vou repetir. O meu pensamento está expresso em muitos artigos de opinião, que
aconselho HB a ler antes de vociferar diatribes.
Esta guerra é fundamentalmente
consequência de a obstinação de Washington querer integrar a Ucrânia na NATO,
parte integrante do seu projeto hegemónico. Chamem-lhe autocracias,
imperialismos, inventem as narrativas que quiserem. Mas é neste ponto que
reside a coisa. Este conflito estava anunciado há décadas. Não por mim, mas por
Kissinger, Mearsheimer, Stephen Walt, Keagan, muitos outros. Segundo HB também
pulhas e homens sem vergonha. Como, aliás, alguns setores liberais da elite
russa que não se revê em Putin.
Sabíamos que a insistência da entrada da
Ucrânia na NATO ia dar nisto. Era fatal como o destino. Este é o pensamento da
escola neorrealista das relações internacionais em que me insiro e revejo.
Curiosamente são os neorrealistas os defensores da paz, e os liberais e
construtivistas os defensores da guerra.
Era uma guerra anunciada, e não ocorreu
logo em 2014 porque Trump ganhou as eleições. Sabíamos que se os democratas as
tivessem ganhado, a probabilidade de a guerra ter ocorrido mais cedo era muito
elevada. A camarilha do establishment das relações exteriores da Sr.ª Clinton,
tomou novamente conta da casa com a subida de Biden ao poder. Não vale a pena
armar-nos em virgens ofendidas e imaculadas, defensores dos grandes valores da
democracia e da ordem liberal. Talvez não seja por acaso que alguém se
descuidou e disse que o objetivo de Washington era derrotar militarmente a
Rússia na Ucrânia. Não fui eu que escrevi.
A presente crise em que a humanidade se
encontra, à beira de um confronto mundial, entre os EUA, Rússia e China,
começou com o golpe de Estado de 2014, patrocinado pelos EUA (hoje Washington
assume isso. Victoria Nuland e o embaixador americano andaram a distribuir
sandes aos revoltosos em Kiev. A Sr.ª Nuland gastou $5Bis na preparação do
golpe. Na altura de escolher os ministros para o governo, mandou a Europa à
fava) que substituiu um presidente democraticamente eleito, que defendia uma
política de neutralidade (non block policy), por outro que abrisse as portas à
entrada da Ucrânia na NATO, e voltássemos à estaca zero. Podia falar-lhe do
dilema de segurança, das zonas de influência (teoria Monroe), segurança para
uns, segurança para todos, mas isso HB terá de estudar.
Para concretizar os seus desejos
hegemónicos os EUA não olham a meios, aliando-se seja a quem for. O inimigo do
meu inimigo é meu amigo. Sabemos o que tem sido o resultado desta abordagem.
Estamos todos lembrados da Santa Aliança com os Talibãs, quando em 1996
chegaram ao poder, porque lhes cheirava a pipeline, que não se concretizou por
causa da UNOCAL. O mesmo veio a acontecer na Ucrânia. Talvez o liberal HB
consiga explicar a lei de 1.7.2021, “sobre os povos indígenas da Ucrânia”,
disponível em https://zakon.rada.gov.ua/laws/show/1616-20#Text,
que consagra uma política baseada na pureza racial da nação ucraniana em nome
da superioridade genética dos ucranianos puros sobre os russos, considerados
“sub-humanos”.
Essa lei (que o governo de Kiev tem
vindo a aplicar, militantemente) defende, em exclusivo, os direitos
fundamentais dos “povos originários da Ucrânia”, também designados por “povos
autóctones da Ucrânia” ou “povos indígenas da Ucrânia” (cossacos e judeus caraítas),
proibindo “a negação da etnia ou identidade étnica” destes povos. Só a estes o
Estado garante proteção “contra atos de genocídio ou quaisquer outros atos de
coerção ou violência coletiva”, “contra quaisquer ações destinadas a encorajar
ou incitar o ódio racial, étnico ou religioso contra eles.”
Os demais ucranianos, nomeadamente os
eslavos (em regra de origem russa e russo-falantes), não fazem parte da “nação
pura”, são considerados como o fazia a Alemanha nazi, seres inferiores,
humanóides, gente sem direito a ter direitos, o que é uma maneira de encorajar
o ódio racial, a violência e o genocídio contra eles (os grupos nazis,
integrados no aparelho de estado, não se cansam de pregar e de praticar a
“cruzada branca” contra os pretos da neve).
HB e os seus amigos deviam ter vergonha
de apoiar esta gente em nome da liberdade e da democracia, e fingirem que não
percebem que com posições destas nos estão a conduzir para a fossa. O modelo
industrial europeu baseado nas vantagens competitivas obtidas à custa do gás
barato russo arderam. Agora vamos pelo cano de esgoto comprando gás aos EUA
mais caro, mas é um gás da liberdade.
Limito-me a constatar factos. Eu percebo
que as pessoas fiquem perturbadas quando perturbamos o repouso das suas
certezas, construídas com as verdades que se “ouvem à noite nos telejornais”,
para as quais HR está sempre disponível a contribuir. Quem sai desse registo e
conta outras abordagens do problema é putinista. Por princípio, não tomo
posição. Procuro apenas explicar os acontecimentos com (outros) argumentos. E
aí é uma chatice. Cai o Carmo e a Trindade.
Não consegui ainda perceber o porquê de
tanta acrimónia por causa da guerra na Ucrânia. Lembra-me os tempos do PREC em
que famílias deixaram de se falar. Mas como a minha reforma e as minhas
poupanças diminuem todos os dias, não é o caso de HR e de outros que vivem no
quentinho do sistema, quero que esta guerra acabe, porque não pretendo
sacrificar o meu futuro por causa da entrada da Ucrânia na NATO. Sugiro a HB a
publicação deste texto nas suas páginas das redes sociais (FB, Twitter,
LinkedIn), pode ser que contribua para o esclarecimento da sua audiência. Pelo
menos, para não serem vulgares, boçais e comportarem-se com algum nível.
Ninguém os tratou mal. Pensem que as suas certezas podem ter pés de barro. E já
agora um bocadinho de respeito, porque enquanto HB andava pela Praça do
Luxemburgo a fazer negócio e a tratar da sua vidinha, andava eu em Kabul a
fazer queda na máscara por causa de um ataque do Hezbi Islami Hekmatyar ao local
onde me encontrava. CB
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