A
VIGILIA DA CAPELA DO RATO na noite de fim do ano de 1972.
A
actual juventude e mesmo muitos cidadãos, até aos 60 anos, não sabe o q foram
os últimos 30 anos do Estado Novo.
Mas
muitos de nós ,ainda vivos, sabemos...Outros esquecem.
Não
sabem das injustiças, obscurantismo e do "Portugal Amordaçado" antes
de 1974.
*Dos
milhares de pobres emigrados para França, Suíça ,Brasil, Africa e EUA...etc.
*Dum
pais mercantil,de riquezas próprias ou exploradas das colónias, e nada produtor
nem industrializado,desde sempre.
*De
um país aliado ao Reino Unido que nos colonizou cinco séculos.
*De
um país que no pós-guerra em 1946 não foi aceite na ONU e que só depois de
alcunhar as colónias de Províncias Ultramarinas (1949) foi aceite em 1955.
*Duma
guerra colonial fratricida de 13 anos.
*Dos
heroicos antifascistas que lutaram e muitos morreram pela Liberdade e foram
exemplo e estímulo para a Alvorada de Abril.
Sobre
o nosso golpe de estado/74 e o PREC...a deturpação de quem perdeu privilégios
ou até pode ter sido vitima de excessos...nada se compara aos excessos
anteriores de quem prendia e matava a liberdade, abafava o desenvolvimento
--nacional e colonial -- (para todos ou por todos), censurava a opinião, não
permitia que o povo português participasse no seu destino.Deixava que este
Portugal fosse dominado por oito famílias ricas que sustentaram Salazar e o dito Estado Novo.
O 25 de Abril de 1974 não teria sido possível
concretizar-se sem a luta que a Oposição Democrática desencadeou a partir do 28
de Maio de 1926, quer à ditadura militar (1926 a 1933), quer ao Estado Novo,
que Salazar encabeçou durante mais de 40 anos.
Muitos democratas, o povo anónimo, intelectuais e
militares, participaram na luta e sofreram a implacável perseguição da PIDE,
pagando com a liberdade e até mesmo com a vida, a ousadia de afrontarem o
regime.
Para fugirem à repressão e perseguições da PIDE, a
oposição tinha dois caminhos, ou a clandestinidade ou o exílio.
O movimento de contestação à ditadura pela oposição
pode ser dividido em 3 fases com características diferentes:
1 – Primeira fase – 1926 a 1943.
2 . Segunda fase, de 1943 até ao início da década de
60.
3 . A terceira fase, começa no início da década de 60.
As principais tentativas de derrube da ditadura e do
estado novo, nas três fases apontadas e que antecederam o 25 de Abril,
infelizmente sem atingirem os seus objectivos principais ainda foram bastantes..
Estão largamente descritos. Mas também proscritos na memória de muitos.
Outras iniciativas relevantes ficaram na história como
as manifestações antifascistas de universitários em 1962 e 1969. E Jornais
regionais empolgantes como o “Jornal do Fundão”, ”Comércio do Funchal” e “Noticias
da Amadora”. E dessas destacamos a “VIGILIA DA CAPELA DO RATO” na noite de fim
do ano de 1972.
Um apontamento resumido sobre esse evento. Dos
promotores da iniciativa destacam-se Nuno Teotónio Pereira, Pereira de Moura, Conceição
e Luís Moita,Jorge Wemans,Isabel Pimentel. Já em 1969 tinha havido uma primeira
vigila na Igreja de S.Domingos também como então e a propósito do dia Mundial
da Paz (1º de Janeiro). Esta vigília de 1972/73 envolveu muito mais gente com a
passagem pela capela do Rato de centenas de pessoas em dois dias. A publicação
clandestina do “BOLETIM ANTI-COLONIAL” após o apoio do Vaticano aos Movimentos
de Libertação africanos o protesto fez-se também desta forma depois da decisão
na missa (19h30)de 30 de Dezembro de se ficar numa vigília de repulsa pelo “estado
ao que chegámos”. A PIDE invadiu a capela a 31 de Dezembro e prendeu 30
pessoas. Alguns foram parar a Caxias. Já depois do Padre Alberto Neto,
responsável da capela e figura central, não se ter oposto à vigília, apesar de
estar com uma pneumonia e a missa ter sido celebrada pelo seu substituto Padre
Seabra Dinis.
Eu e minha mulher e os pais desta frequentávamos as
missas do Padre Alberto desde há mais de seis anos. Morávamos perto. Eram
missas diferentes. Duma apologia progressista e encantadora. Fui interveniente
neste acontecimento. Era amigo de Teotónio Pereira e de Isabel do Carmo. Por
razões da minha, já iniciada caminhada antifascista, desde os anos 60 e da
amizade do Padre Alberto que baptizara os meus dois filhos, já em 1967 e 1969
na Igreja do Beco/Ferreira do Zêzere. A
pedido do Padre Alberto os meus sogros apoiaram, nos estudos
universitários, jovens com dificuldades. Futuros gratos licenciados. Também
esta atitude louvável fazia, e ainda faz parte, das contradições da religião e
dos seus apóstolos.
O ano de 1973 com o Congresso da Oposição Democrática,
três meses depois-Abril/Aveiro-foi um ano decisivo. Também lá estive . Os
capitães, de que me honro fazer parte, iniciaram (em Bissau e em Alcáçovas) os
actos de insubordinação real ,desenvolvendo a conspiração e a revolta rumo ao
25 de Abril de 1974.
Capitães de Abril. Não foram estes actos que nos
motivaram .Podemos afirmar --contra a corrente dos detractores—que por, alguns
de nós, sabermos mais e termos aprendido com a vida e as circunstâncias que
estivemos nestes actos e lhes demos a continuidade e maturidade libertadora na feliz madrugada de
ABRIL
Manuel Duran Clemente
(Lisboa 23/05/2022)
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