segunda-feira, 23 de maio de 2022

A VIGILIA DA CAPELA DO RATO

 

A VIGILIA DA CAPELA DO RATO na noite de fim do ano de 1972.

 

A actual juventude e mesmo muitos cidadãos, até aos 60 anos, não sabe o q foram os últimos 30 anos do Estado Novo.

Mas muitos de nós ,ainda vivos, sabemos...Outros esquecem.

Não sabem das injustiças, obscurantismo e do "Portugal Amordaçado" antes de 1974.

*Dos milhares de pobres emigrados para França, Suíça ,Brasil, Africa e EUA...etc.

*Dum pais mercantil,de riquezas próprias ou exploradas das colónias, e nada produtor nem industrializado,desde sempre.

*De um país aliado ao Reino Unido que nos colonizou cinco séculos.

*De um país que no pós-guerra em 1946 não foi aceite na ONU e que só depois de alcunhar as colónias de Províncias Ultramarinas (1949) foi aceite em 1955.

*Duma guerra colonial fratricida de 13 anos.

*Dos heroicos antifascistas que lutaram e muitos morreram pela Liberdade e foram exemplo e estímulo para a Alvorada de Abril.

Sobre o nosso golpe de estado/74 e o PREC...a deturpação de quem perdeu privilégios ou até pode ter sido vitima de excessos...nada se compara aos excessos anteriores de quem prendia e matava a liberdade, abafava o desenvolvimento --nacional e colonial -- (para todos ou por todos), censurava a opinião, não permitia que o povo português participasse no seu destino.Deixava que este Portugal fosse dominado por oito famílias ricas que sustentaram  Salazar e o dito Estado Novo.

 

O 25 de Abril de 1974 não teria sido possível concretizar-se sem a luta que a Oposição Democrática desencadeou a partir do 28 de Maio de 1926, quer à ditadura militar (1926 a 1933), quer ao Estado Novo, que Salazar encabeçou durante mais de 40 anos.

 

Muitos democratas, o povo anónimo, intelectuais e militares, participaram na luta e sofreram a implacável perseguição da PIDE, pagando com a liberdade e até mesmo com a vida, a ousadia de afrontarem o regime.

 

Para fugirem à repressão e perseguições da PIDE, a oposição tinha dois caminhos, ou a clandestinidade ou o exílio.

 

O movimento de contestação à ditadura pela oposição pode ser dividido em 3 fases com características diferentes:

 

1 – Primeira fase – 1926 a 1943.

 

2 . Segunda fase, de 1943 até ao início da década de 60.

 

3 . A terceira fase, começa no início da década de 60.

 

As principais tentativas de derrube da ditadura e do estado novo, nas três fases apontadas e que antecederam o 25 de Abril, infelizmente sem atingirem os seus objectivos principais ainda foram bastantes.. Estão largamente descritos. Mas também proscritos na memória de muitos.

 

Outras iniciativas relevantes ficaram na história como as manifestações antifascistas de universitários em 1962 e 1969. E Jornais regionais empolgantes como o “Jornal do Fundão”, ”Comércio do Funchal” e “Noticias da Amadora”. E dessas destacamos a “VIGILIA DA CAPELA DO RATO” na noite de fim do ano de 1972.

 

Um apontamento resumido sobre esse evento. Dos promotores da iniciativa destacam-se Nuno Teotónio Pereira, Pereira de Moura, Conceição e Luís Moita,Jorge Wemans,Isabel Pimentel. Já em 1969 tinha havido uma primeira vigila na Igreja de S.Domingos também como então e a propósito do dia Mundial da Paz (1º de Janeiro). Esta vigília de 1972/73 envolveu muito mais gente com a passagem pela capela do Rato de centenas de pessoas em dois dias. A publicação clandestina do “BOLETIM ANTI-COLONIAL” após o apoio do Vaticano aos Movimentos de Libertação africanos o protesto fez-se também desta forma depois da decisão na missa (19h30)de 30 de Dezembro de se ficar numa vigília de repulsa pelo “estado ao que chegámos”. A PIDE invadiu a capela a 31 de Dezembro e prendeu 30 pessoas. Alguns foram parar a Caxias. Já depois do Padre Alberto Neto, responsável da capela e figura central, não se ter oposto à vigília, apesar de estar com uma pneumonia e a missa ter sido celebrada pelo seu substituto Padre Seabra Dinis.

 

Eu e minha mulher e os pais desta frequentávamos as missas do Padre Alberto desde há mais de seis anos. Morávamos perto. Eram missas diferentes. Duma apologia progressista e encantadora. Fui interveniente neste acontecimento. Era amigo de Teotónio Pereira e de Isabel do Carmo. Por razões da minha, já iniciada caminhada antifascista, desde os anos 60 e da amizade do Padre Alberto que baptizara os meus dois filhos, já em 1967 e 1969 na Igreja do Beco/Ferreira do Zêzere. A  pedido do Padre Alberto os meus sogros apoiaram, nos estudos universitários, jovens com dificuldades. Futuros gratos licenciados. Também esta atitude louvável fazia, e ainda faz parte, das contradições da religião e dos seus apóstolos.

 

O ano de 1973 com o Congresso da Oposição Democrática, três meses depois-Abril/Aveiro-foi um ano decisivo. Também lá estive . Os capitães, de que me honro fazer parte, iniciaram (em Bissau e em Alcáçovas) os actos de insubordinação real ,desenvolvendo a conspiração e a revolta rumo ao 25 de Abril de 1974.

 

Capitães de Abril. Não foram estes actos que nos motivaram .Podemos afirmar --contra a corrente dos detractores—que por, alguns de nós, sabermos mais e termos aprendido com a vida e as circunstâncias que estivemos nestes actos e lhes demos a continuidade e  maturidade libertadora na feliz madrugada de ABRIL

 

Manuel Duran Clemente  (Lisboa 23/05/2022)

 

 

 

 

 

 

 

 

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