25 de ABRIL/Sonho, Luta,
Revolução e Esperança
Voltámos a estar em guerra.
Abril vencerá porque Abril é o futuro.
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Houve 25 de Abril porque havendo ditadura,
colonização, opressão, obscurantismo, repressão, demagogia, isolamento…um
pesado policiamento das consciências. queríamos
ser Livres, estar…em PAZ, contribuir, com plena cidadania, para a construção do
nosso futuro…
Mas
Colonizados e
colonizadores, interna e externamente, também houve 25 de Abril porque quisemos acabar
com o infortúnio e cegueira duma guerra colonial.
Todos os
que não se sentiam bem…com este estado de coisas… fizeram o 25 de ABRIL.
Fomos
um só povo: europeus e africanos. Os do Norte e os do Sul, do Litoral e do
Interior:
A sentir em português o
acto: REVOLTA...
A falar em português a
palavra: LIBERDADE...
A
guerra que travámos tinha várias espécies de “teatro de operações”:
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O teatro
de operações não era só em África, na guerra colonial…era em toda a parte
onde se lutava,
onde se trabalhava
onde se sofria,
onde se aprendia,
onde se conspirava
onde se crescia…
onde se queria um 25
de Abril.
A
guerra em que nos meteram “Portugal uno e indivisível “ isolou-nos ainda mais …Mas
como há sempre verso e reverso, a dialéctica encarregou-se de nos colocar contemporâneos
com o rumo de mudança e de concretizar o fim
da
ditadura
opressiva de quarenta e oito anos e do colonialismo atávico de quinhentos anos.
”Libertámo-nos”
duma prisão, dum isolamento e dum obscurantismo e quisemos, com os novos ventos
da História, enfunar as velas de velhos navegantes rumo a outra Amizade
e Cooperação entre os povos.
E…só assim
foi possível o 25 de ABRIL…
Portugal redimiu-se numa noite e fez
surpreendentemente, dum conjunto de jovens militares, emergirem capitães, timoneiros
do povo armado…mas também, sob a égide dum povo unido, erguer uma das mais belas alvoradas.
Nós capitães, anos após anos, constatámos que
afinal o nosso inimigo não estava na mata tropical mas no Terreiro do
Paço…Altas patentes militares e Governantes mentiam-nos sem pudor.
E foi, paradoxalmente, com os conhecimentos
adquiridos nessa guerra, que soubemos preparar com profissionalismo e
competência a tomada do poder.
Uma Alvorada libertadora, só por si, não faz uma
Revolução…mas há Alvoradas que as fazem.
Nesse dia,
há 39 anos, o 25 de Abril sendo um Golpe Militar, organizado, trabalhoso e
difícil, teve na estrondosa adesão popular a plataforma para um estado
superior : foi REVOLUÇÃO.
Ao povo, aos cidadãos… foi restituído o que era
deles e por isso eles acorreram: a tomar nas suas mãos o que lhe era pertença:
-nas instituições;
-nas fábricas;
-nos bairros;
-nas escolas;
-na terra…no campo…na serra.
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Hoje,
passados trinta e nove anos, o Portugal Democrático não devia já ter nada a ver
com o Portugal da ditadura. Não queremos branquear o fascismo mas nos últimos
anos infelizmente o 25 de Abril está a ficar distante.
Não
confundamos os males de então com os dias extremamente difíceis de “hoje”,
que já o eram “ontem” e têm vindo a sê-lo nesta caminhada.
Quiçá,
terão mesmo alicerces numa data venerada pelos inimigos da Revolução, dum certo
Novembro da nossa Primavera.
Os
desencantos de hoje e respectivas frustrações nada têm a ver com o 25 de Abril.
Os desencantos de hoje e respectivas frustrações
são fruto duma coligação de interesses e conjugação de factores internos e externos.
Às raízes antigas, outras se lhes vieram juntar.
Globalmente são resultado
da essência e natureza dum sistema predador:
-Responsável
pela miséria, pela fome e pela doença de milhões de seres humanos.
-Responsável
pela depauperação de países e pela pilhagem de continentes.
Chama-se: “capitalismo”,
com diversas alcunhas:
-neo-liberalismo,
-ultra-liberalismo global…
-e até já, e só, simplesmente da curta
palavra “mercado ”.
Em
25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.
Quem
deixou, quem permitiu (como e quando) que agora, nos dias de hoje, seja o
MERCADO e os seus tiranetes que mandem em nós ???
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Há
anos que vimos afirmando que o sistema gera desumanas situações sócio-económicas,
com uma aparente e ilusória contrapartida de progresso económico,
onde os ricos tem ficado
cada vez mais ricos
e os pobres, cada vez, mais
pobres.
Há
muito que a economia social foi estrangulada
e a vertente financeira (especulação)
se sobrepõe à vertente produtiva
(economia real).
A
Banca e a Finança a governar.
Esta
é a essência da crise
.
Infelizmente,
é-o, há muito.
E o que é que isto tem a
ver com o nosso 25 de Abril?? Perguntarão.
Tem
tudo a ver.
Para
nós Capitães de Abril, para a esmagadora maioria de nós, de todos nós, o
verdadeiro 25 de Abril assentava numa base programática (o programa do MFA) com
os direitos e os deveres do cidadão, dignos dum Estado-Social…e que, graças à luta dos progressistas, a
Constituição da República Portuguesa viria a consagrar, em letra, em 2 de Abril
de 1976.
Durante cerca de dois
anos o MFA e os governos provisórios produziram quase 200 diplomas (Leis, DL e
Portarias) que oficializaram as conquistas da Revolução…para alegria e satisfação popular.
Que País e que
Estado-Social temos, 39 anos depois?
Há trinta e nove anos quisemos um país novo.
O
programa do MFA deu o mote: descolonizar,
democratizar e desenvolver. Ter PAZ, como necessidade intrínseca.
Tivemos muitos avanços e grandes recuos. Mas…
Que
outra “guerra” ou outras “guerras” nos atormentam?
Dos
marcos da Revolução Francesa : Liberdade,
Igualdade e Fraternidade (Solidariedade), os poderes instalados só vibram
com a Liberdade.
Mas
onde andam a Igualdade, Fraternidade e a Solidariedade?
É que a Liberdade, anda de boca em boca, para
que haja cada vez mais libertinagem para: “explorar”… “oprimir” … “mentir”…“manipular”.. A mentira e manipulação são a hipócrita
bandeira na lapela dos governantes.
Sendo um país diferente :
-muitos sonhos ficaram por realizar,
-muitas situações de injustiça e iniquidade
convivem connosco ainda hoje e agora!
-a gravíssima crise interna deve-se à coligação
de interesses que nos tem desgovernado!
-e a crise internacional pretendem os poderosos
curá-la exactamente com os mesmos falsos remédios que a criaram!
Voltámos a
estar em “guerra”.E
sabemos onde estão os inimigos.
Estando muito diferentes de há 39 anos, estávamos
longe de pensar, que absurdos e negativos indicadores e comportamentos dos
governantes hoje nos colocariam próximos duma bancarrota social e financeira,
incentivada pelos especuladores agiotas e poderosos da banca e da finança
internacional.
Quem nos conduz?
A esta austeridade suicidária geradora da continuada desaceleração da economia?
Ao exacerbar da pobreza?
À mais alta taxa de desemprego e aumento e
generalização da precariedade?
À quebra dos salários, já dos mais baixos da
União Europeia? À brutal redução das pensões dos reformados?
A uma despudorada e injusta carga fiscal?
Ao ataque ao direito ao trabalho digno e ao
Estado Social com a grave redução dos legítimos direitos na saúde, na segurança
social, na educação e na justiça?
Com esta política, Portugal tem vindo a
empobrecer e as desigualdades têm vindo a aumentar exponencialmente.
Que se passa?
Desde o operário ao licenciado o português é bom
profissional em todo o mundo! Que nos fazem ou deixamos que nos façam em
Portugal.
E os sucessivos Governos que têm feito?
O 25 de
Abril merece mais, merecia mais.
Merecia e merece outra Politica. Outra classe politica diferente da que tem
detido o poder desde os Governos Constitucionais que infelizmente não têm
sabido, em muitos momentos, estar à altura da grandeza da LIBERTAÇÃO de ABRIL.
Em 37 anos os sucessivos governos constitucionais
têm-se mostrado reféns e amarrados a várias
grilhetas internas e externas:
a)-Dentro
do País/Internamente, prisioneiros:
*-de uma cultura “de
poder pelo poder” em vez “do poder pelas pessoas, pelas nossas gentes” e de uma
cultura da mentira e da manipulação.
*-da criação de clientelas
e de elites sôfregas por lugares ao sol…e que por aí vão propagando formas de
estar e de vivência nada condizentes com o espírito de Abril.
*-do asfixiar das
responsabilidades cívicas e dos direitos de participação e da cidadania activa
que Abril abriu.
*-do prodígio da
incompetência e de estratégia de suicídio…que o mais pessimista de nós nunca esperaria
após o25 de Abril.
*-da ilusão de alternativas salvadores mas que
apenas têm escondido o papel de afundadores do País de Abril, repetindo e alternando
a farsa a que se entregaram nesta quatro décadas subvertendo na prática as
normas, os fundamentos e as linhas orientadoras da Constituição de 1976 e ,pasme-se, até querendo
atribuir-lhe, a ela e ao TC, os males do País.
*-pela incapacidade de desmontar uma intensa
ofensiva ideológica levada a cabo pelos órgãos de comunicação, propriedade do
grande capital, cujo objectivo tem sido criar condições favoráveis à
continuação da política dos poderosos…e à desqualificação da vida dos trabalhadores.
*do enfraquecimento propositado do aparelho de
estado para justificar contratações milionárias a privados.
*-da corrupção, da apropriação, assalto e
esbulho aos bens, que supostamente deveriam estar ao serviço de todos os
cidadãos, mas têm servido para a criação de coutadas geradoras de lucros e
escandalosas remunerações e prémios anuais recordes do mundo .
*Reféns, pecado maior, do mando dos grupos
financeiros e económicos nacionais, a cuja subordinação, esta nossa democracia
já compete com os piores tempos da ditadura.
b)-Lá
fora/Externamente,reféns
*-duma débil e falsa União Europeia (um gigante
de pés de barro)para onde partimos (em 1986) apenas com dez anos de democracia
e com um estrondoso atraso estrutural económico (herdado da ditadura) que só
por si merecia, como muitos avisaram, outro tipo de negociações, outras
cautelas, leviana e festivamente, desprezadas.
*-da incapacidade de fazer valer os pontos de
vista nacionais, submissos à abdicação e imposição que nos fragilizaram em
sectores económicos vitais (como nas pescas, na indústria e na agricultura…)
entre outras malfeitorias semelhantes.
*-à cegueira de não
perceber que a crise internacional teve responsáveis…os mesmíssimos que agora a
querem curar à custa dos mais fracos e do sacrifício da classe que foi sempre a
sacrificada:a classe trabalhadora.
*-cúmplices da ignorância do que tem acontecido
aos povos que recorreram à designada “ajuda externa” que não é mais do que um
“eufemismo” porque significa tudo menos ajuda. É exploração, é especulação, é
ingerência…de agiotas, do mercado usuário.
*-duma lógica de integração capitalista que é o
aumento da acumulação e concentração de capital dos grandes conglomerados de empresas, dos monopólios dos países mais
ricos e desenvolvidos que não só
engordam à custa do saque dos países do terceiro mundo, como também dos países
menos desenvolvidos da U.E.
*-de não perceber que as ditas crises
financeiras resultam das crises do capitalismo e baseiam-se sempre na
sobre-acumulação de capital na esfera da produção. Não perceber que perante as
crises ou impasses o capital monopolista irá tornar-se mais agressivo,
predatório e sem escrúpulos, intensificando a exploração dos trabalhadores. O
objectivo é a redução do custo da força do trabalho.
*-de não perceber ou ser cúmplices de que nenhum
pacto, mecanismo ou programa de estabilidade, poderá, só por si, debelar a
crise ou resolver as contradições do capitalismo, como ataque selvagem e
bárbaro do capital contra os direitos e vida dos trabalhadores, das camadas
populares e dos jovens.
*-de não compreender que com a continuação das
politicas e dos comportamentos ,que teimosamente o Capital impõe ( perante o
qual se têm vergado os responsáveis portugueses)…com a continuação dessas
políticas o desemprego, a pobreza, e as contradições entre os estados-membros
da U.E. irão aumentar, com graves consequências para os povos.
*-não entender que a escalada de ataques
antipopulares atingirá todos os estados membros da U.E, porque o Capital Monopolista
quer é reduzir o custo da força do
trabalho, o seu objectivo fulcral é reforçar a competitividade não só em
relação aos EUA, mas também em relação às forças emergentes como China, India e
outras, com mão de obra muito mais baixa… a
questão dos défices e dos endividamentos pode ser apenas e tão somente uma
cortina de fumo…
Nada disto
tem a ver com o que deu razão e motivou o 25 de Abril….
Tudo isto é contrário ao que aliança POVO-MFA
queria, na alvorada libertadora…e afasta-se da Constituição mesmo com as sete
alterações já impostas.
É essa política da contra-revolução - executada
nas últimas quatro décadas por quase uma vintena de governos da troika nacional,
muitas vezes em frontal desrespeito pela Constituição da República, fora da lei Fundamental do País e, de há dois
anos para cá, sob a batuta da troika ocupante - a única responsável pelo estado
de desgraça a que Portugal chegou.
É essa
política de ódio a Abril que urge derrotar e substituir por um política de
sentido oposto, logo inspirada nos valores de Abril.
Por isso iremos comemorar os 40 anos de Abril.
Por isso os comemoraremos em luta. Com a firme convicção de que é nos valores
de Abril - nas suas conquistas políticas, sociais, económicas, culturais,
civilizacionais - que se encontra a solução para os muitos e graves problemas
criados pelos governos e pelas políticas da contra-revolução internas e
externas.
Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os
portugueses participassem no futuro.
Fizemos pontes para o futuro.
O poder hoje instalado “quer fazer do amanhã pontes para
o passado”.
Quer regredir aos tempos de antes da revolução
francesa.
Quer o empobrecimento de todos nós para que um por
cento mande em noventa e nove por cento da humanidade. A austeridade é apenas
um instrumento duma estratégia. Querem que se caia num “feudalismo moderno”.
Não
deixaremos.
Com a certeza de que a conquista de tal solução
depende, no essencial, da luta dos trabalhadores e do povo.
Com os
trabalhadores e o povo, com a intervenção organizada de todos os homens,
mulheres e jovens identificados com os valores de Abril, conquistaremos um rumo
novo para Portugal.
Abril
vencerá!
Porque Abril é o futuro.
A luta
continua e com ela continuará sempre…o
sonho, a revolução e a esperança: que fizeram Abril, que deram força a Abril.
Tal como há 39 anos. Tal como durante 39 anos.
Há
vitórias e derrotas nas constantes batalhas da Vida...[ já dizia B.Brecht ] mas a
grande Vitória é continuar a lutar...a lutar pela paz, igualdade e justiça
social.Alutar pelos valores de Abril e suas conquistas da Revolução.
“Sejamos realistas desejando o impossível.” Para além de Maio de 68.
Todos nós somos parte da solução.
Repetimos
Abril
vencerá!
Porque Abril é o futuro.
Manuel
[Cap. de Abril]
Membro da Presidência do CPPC e vogal da
Direcção da ACR/Associação das Conquistas da Revolução. Membro do Grupo de
Reflexão da Associação 25 de Abril.
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