quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

25 de ABRIL/Sonho, Luta, Revolução e Esperança

 

25 de ABRIL/Sonho, Luta, Revolução e Esperança

Voltámos a estar em guerra.

 

Abril vencerá porque Abril é o futuro.

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Houve 25 de Abril porque havendo ditadura, colonização, opressão, obscurantismo, repressão, demagogia, isolamento…um pesado policiamento das consciências. queríamos ser Livres, estar…em PAZ, contribuir, com plena cidadania, para a construção do nosso futuro…

 

Mas

 

Colonizados e colonizadores, interna e externamente, também houve 25 de Abril porque quisemos acabar com o infortúnio e cegueira duma guerra colonial. 

 

Todos os que não se sentiam bem…com este estado de coisas… fizeram o 25 de ABRIL.

 

Fomos um só povo: europeus e africanos. Os do Norte e os do Sul, do Litoral e do Interior:

                       A sentir em português o acto: REVOLTA...

                       A falar em português a palavra: LIBERDADE...

 

A guerra que travámos tinha várias espécies de “teatro de operações”:

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O teatro de operações não era só em África, na guerra colonial…era em toda a parte

                           onde se lutava,

                           onde se trabalhava

                           onde se sofria,

                           onde se aprendia,

                           onde se conspirava

                           onde se crescia…

                           onde se queria um 25 de Abril.

 

A guerra em que nos meteram “Portugal uno e indivisível “ isolou-nos ainda mais …Mas como há sempre verso e reverso, a dialéctica encarregou-se de nos colocar contemporâneos com o rumo de mudança e de concretizar o fim  da

ditadura opressiva de  quarenta e oito anos e  do colonialismo atávico de quinhentos anos.

 

 ”Libertámo-nos” duma prisão, dum isolamento e dum obscurantismo e quisemos, com os novos ventos da História, enfunar as velas de velhos navegantes rumo a outra Amizade e Cooperação entre os povos.

 

E…só assim foi possível o 25 de ABRIL

 

Portugal redimiu-se numa noite e fez surpreendentemente, dum conjunto de jovens militares, emergirem capitães, timoneiros do povo armado…mas também, sob a égide dum povo unido, erguer uma das mais belas alvoradas.

 

Nós capitães, anos após anos, constatámos que afinal o nosso inimigo não estava na mata tropical mas no Terreiro do Paço…Altas patentes militares e Governantes mentiam-nos sem pudor.

E foi, paradoxalmente, com os conhecimentos adquiridos nessa guerra, que soubemos preparar com profissionalismo e competência a tomada do poder.

 

 

Uma Alvorada libertadora, só por si, não faz uma Revolução…mas há Alvoradas que as fazem.  

 

Nesse dia, há 39 anos, o 25 de Abril sendo um Golpe Militar, organizado, trabalhoso e difícil, teve na estrondosa adesão popular a plataforma para um estado superior  : foi REVOLUÇÃO.

 

Ao povo, aos cidadãos… foi restituído o que era deles e por isso eles acorreram: a tomar nas suas mãos o que lhe era pertença:

-nas instituições;

-nas fábricas;

-nos bairros;

-nas escolas;

-na terra…no campo…na serra.

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Hoje, passados trinta e nove anos, o Portugal Democrático não devia já ter nada a ver com o Portugal da ditadura. Não queremos branquear o fascismo mas nos últimos anos infelizmente o 25 de Abril está a ficar distante.

 

Não confundamos os males de então com os dias extremamente difíceis de  “hoje”,  que já o eram “ontem” e têm vindo a sê-lo nesta caminhada.

Quiçá, terão mesmo alicerces numa data venerada pelos inimigos da Revolução, dum certo Novembro da nossa Primavera.

 

Os desencantos de hoje e respectivas frustrações nada têm a ver com o 25 de Abril.

 

Os desencantos de hoje e respectivas frustrações são fruto duma coligação de interesses e conjugação de factores internos e externos.

 

Às raízes antigas, outras se lhes vieram juntar.

 

Globalmente são resultado da essência e natureza dum sistema predador:

 

-Responsável pela miséria, pela fome e pela doença de milhões de seres humanos.

-Responsável pela depauperação de países e pela pilhagem de continentes.

 

Chama-se: “capitalismo”, com diversas alcunhas:

   -neo-liberalismo,

   -ultra-liberalismo global…

   -e até já, e só, simplesmente da curta palavra “mercado ”.

 

Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.

Quem deixou, quem permitiu (como e quando) que agora, nos dias de hoje, seja o MERCADO  e os seus tiranetes que mandem em nós ???

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Há anos que vimos afirmando que o sistema gera desumanas situações sócio-económicas, com uma aparente e ilusória contrapartida de progresso económico,

 

onde os ricos tem ficado cada vez mais ricos

e os pobres, cada vez, mais pobres.

 

Há muito que a economia social foi estrangulada e a vertente financeira (especulação) se sobrepõe à vertente produtiva (economia real).

 

A Banca e a Finança a governar.

Esta é a essência da crise .

 

Infelizmente, é-o, há muito.

E o que é que isto tem a ver com o nosso 25 de Abril?? Perguntarão.

 

Tem tudo a ver.

 

Para nós Capitães de Abril, para a esmagadora maioria de nós, de todos nós, o verdadeiro 25 de Abril assentava numa base programática (o programa do MFA) com os direitos e os deveres do cidadão, dignos dum Estado-Social…e que, graças à luta dos progressistas, a Constituição da República Portuguesa viria a consagrar, em letra, em 2 de Abril de 1976.

Durante cerca de dois anos o MFA e os governos provisórios produziram quase 200 diplomas (Leis, DL e Portarias) que oficializaram as conquistas da Revolução…para alegria e satisfação popular.

 

Que País e que Estado-Social temos, 39 anos depois?

 

Há trinta e nove anos quisemos um país novo.

O programa do MFA deu o mote: descolonizar, democratizar e desenvolver. Ter PAZ, como necessidade intrínseca.

 

Tivemos muitos avanços e grandes recuos. Mas…

 

Que outra “guerra” ou outras “guerras” nos atormentam?

 

Dos marcos da Revolução Francesa : Liberdade, Igualdade e Fraternidade (Solidariedade), os poderes instalados só vibram com a Liberdade.

Mas onde andam a Igualdade, Fraternidade e a Solidariedade?

É que a Liberdade, anda de boca em boca, para que haja cada vez mais libertinagem para: “explorar”… “oprimir” … “mentir”…“manipular”.. A mentira e manipulação são a hipócrita bandeira na lapela dos governantes.

 

Sendo um país diferente :

-muitos sonhos ficaram por realizar,

 

-muitas situações de injustiça e iniquidade convivem connosco ainda hoje e agora!

 

-a gravíssima crise interna deve-se à coligação de interesses que nos tem desgovernado!

 

-e a crise internacional pretendem os poderosos curá-la exactamente com os mesmos falsos remédios que a criaram!

 

Voltámos a estar em “guerra”.E sabemos onde estão os inimigos.

 

Estando muito diferentes de há 39 anos, estávamos longe de pensar, que absurdos e negativos indicadores e comportamentos dos governantes hoje nos colocariam próximos duma bancarrota social e financeira, incentivada pelos especuladores agiotas e poderosos da banca e da finança internacional.

 

Quem nos conduz?

 

A esta austeridade suicidária geradora da continuada desaceleração da economia?

Ao exacerbar da pobreza?

À mais alta taxa de desemprego e aumento e generalização da precariedade?

À quebra dos salários, já dos mais baixos da União Europeia? À brutal redução das pensões dos reformados?

A uma despudorada e injusta carga fiscal?

Ao ataque ao direito ao trabalho digno e ao Estado Social com a grave redução dos legítimos direitos na saúde, na segurança social, na educação e na justiça?

 

Com esta política, Portugal tem vindo a empobrecer e as desigualdades têm vindo a aumentar exponencialmente.

 

Que se passa?

Desde o operário ao licenciado o português é bom profissional em todo o mundo! Que nos fazem ou deixamos que nos façam em Portugal.

 

E os sucessivos Governos que têm feito?

O 25 de Abril merece mais, merecia mais.

Merecia e merece outra Politica. Outra classe politica diferente da que tem detido o poder desde os Governos Constitucionais que infelizmente não têm sabido, em muitos momentos, estar à altura da grandeza da LIBERTAÇÃO de ABRIL.

 

Em 37 anos os sucessivos governos constitucionais têm-se mostrado reféns e amarrados a várias grilhetas internas e externas:

 

a)-Dentro do País/Internamente, prisioneiros:

 

*-de uma cultura “de poder pelo poder” em vez “do poder pelas pessoas, pelas nossas gentes” e de uma cultura da mentira e da manipulação.

 

*-da criação de clientelas e de elites sôfregas por lugares ao sol…e que por aí vão propagando formas de estar e de vivência nada condizentes com o espírito de Abril.

 

*-do asfixiar das responsabilidades cívicas e dos direitos de participação e da cidadania activa que Abril abriu.

 

*-do prodígio da incompetência e de estratégia de suicídio…que o mais pessimista de nós nunca esperaria após o25 de Abril.

 

*-da ilusão de alternativas salvadores mas que apenas têm escondido o papel de afundadores do País de Abril, repetindo e alternando a farsa a que se entregaram nesta quatro décadas subvertendo na prática as normas, os fundamentos e as linhas orientadoras da Constituição  de 1976 e ,pasme-se, até querendo atribuir-lhe, a ela e ao TC, os males do País.

 

*-pela incapacidade de desmontar uma intensa ofensiva ideológica levada a cabo pelos órgãos de comunicação, propriedade do grande capital, cujo objectivo tem sido criar condições favoráveis à continuação da política dos poderosos…e à desqualificação da vida dos trabalhadores.

 

*do enfraquecimento propositado do aparelho de estado para justificar contratações milionárias a privados.

 

*-da corrupção, da apropriação, assalto e esbulho aos bens, que supostamente deveriam estar ao serviço de todos os cidadãos, mas têm servido para a criação de coutadas geradoras de lucros e escandalosas remunerações e prémios anuais recordes do mundo .

 

*Reféns, pecado maior, do mando dos grupos financeiros e económicos nacionais, a cuja subordinação, esta nossa democracia já compete com os piores tempos da ditadura.

 

b)-Lá fora/Externamente,reféns

 

*-duma débil e falsa União Europeia (um gigante de pés de barro)para onde partimos (em 1986) apenas com dez anos de democracia e com um estrondoso atraso estrutural económico (herdado da ditadura) que só por si merecia, como muitos avisaram, outro tipo de negociações, outras cautelas, leviana e festivamente, desprezadas.

 

*-da incapacidade de fazer valer os pontos de vista nacionais, submissos à abdicação e imposição que nos fragilizaram em sectores económicos vitais (como nas pescas, na indústria e na agricultura…) entre outras malfeitorias semelhantes.

 

*-à cegueira de não perceber que a crise internacional teve responsáveis…os mesmíssimos que agora a querem curar à custa dos mais fracos e do sacrifício da classe que foi sempre a sacrificada:a classe trabalhadora.

 

*-cúmplices da ignorância do que tem acontecido aos povos que recorreram à designada “ajuda externa” que não é mais do que um “eufemismo” porque significa tudo menos ajuda. É exploração, é especulação, é ingerência…de agiotas, do mercado usuário.

 

*-duma lógica de integração capitalista que é o aumento da acumulação e concentração de capital dos grandes conglomerados  de empresas, dos monopólios dos países mais ricos  e desenvolvidos que não só engordam à custa do saque dos países do terceiro mundo, como também dos países menos desenvolvidos da U.E.

 

*-de não perceber que as ditas crises financeiras resultam das crises do capitalismo e baseiam-se sempre na sobre-acumulação de capital na esfera da produção. Não perceber que perante as crises ou impasses o capital monopolista irá tornar-se mais agressivo, predatório e sem escrúpulos, intensificando a exploração dos trabalhadores. O objectivo é a redução do custo da força do trabalho.

 

*-de não perceber ou ser cúmplices de que nenhum pacto, mecanismo ou programa de estabilidade, poderá, só por si, debelar a crise ou resolver as contradições do capitalismo, como ataque selvagem e bárbaro do capital contra os direitos e vida dos trabalhadores, das camadas populares e dos jovens.

 

*-de não compreender que com a continuação das politicas e dos comportamentos ,que teimosamente o Capital impõe ( perante o qual se têm vergado os responsáveis portugueses)…com a continuação dessas políticas o desemprego, a pobreza, e as contradições entre os estados-membros da U.E. irão aumentar, com graves consequências para os povos.

 

*-não entender que a escalada de ataques antipopulares atingirá todos os estados membros da U.E, porque o Capital Monopolista quer é reduzir o custo da força do trabalho, o seu objectivo fulcral é reforçar a competitividade não só em relação aos EUA, mas também em relação às forças emergentes como China, India e outras, com mão de obra muito mais baixa… a questão dos défices e dos endividamentos pode ser apenas e tão somente uma cortina de fumo…

 

Nada disto tem a ver com o que deu razão e motivou o 25 de Abril….

Tudo isto é contrário ao que aliança POVO-MFA queria, na alvorada libertadora…e afasta-se da Constituição mesmo com as sete alterações já impostas.

 

É essa política da contra-revolução - executada nas últimas quatro décadas por quase uma vintena de governos da troika nacional, muitas vezes em frontal desrespeito pela Constituição da República,  fora da lei Fundamental do País e, de há dois anos para cá, sob a batuta da troika ocupante - a única responsável pelo estado de desgraça a que Portugal chegou.

É essa política de ódio a Abril que urge derrotar e substituir por um política de sentido oposto, logo inspirada nos valores de Abril.

Por isso iremos comemorar os 40 anos de Abril. Por isso os comemoraremos em luta. Com a firme convicção de que é nos valores de Abril - nas suas conquistas políticas, sociais, económicas, culturais, civilizacionais - que se encontra a solução para os muitos e graves problemas criados pelos governos e pelas políticas da contra-revolução internas e externas.

 

Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.

Fizemos pontes para o futuro.

O poder hoje instalado “quer fazer do amanhã pontes para o passado”.

Quer regredir aos tempos de antes da revolução francesa.

Quer o empobrecimento de todos nós para que um por cento mande em noventa e nove por cento da humanidade. A austeridade é apenas um instrumento duma estratégia. Querem que se caia num “feudalismo moderno”.

 

Não deixaremos.

 

Com a certeza de que a conquista de tal solução depende, no essencial, da luta dos trabalhadores e do povo.

Com os trabalhadores e o povo, com a intervenção organizada de todos os homens, mulheres e jovens identificados com os valores de Abril, conquistaremos um rumo novo para Portugal.

 

Abril vencerá! Porque Abril é o futuro.

 

A luta continua e com ela continuará sempre…o sonho, a revolução e a esperança: que fizeram Abril, que deram força a Abril.

 

Tal como há 39 anos. Tal como durante 39 anos.

 

Há vitórias e derrotas nas constantes batalhas da Vida...[ já dizia B.Brecht ] mas a grande Vitória é continuar a lutar...a lutar pela paz, igualdade e justiça social.Alutar pelos valores de Abril e suas conquistas da Revolução.

 

“Sejamos realistas desejando o impossível.” Para além de Maio de 68.

 

Todos nós somos parte da solução.

 

Repetimos

 

Abril vencerá! Porque Abril é o futuro.

 

 

Manuel Duran Clemente,Coronel Ref.

[Cap. de Abril]

 

Membro da Presidência do CPPC e vogal da Direcção da ACR/Associação das Conquistas da Revolução. Membro do Grupo de Reflexão da Associação 25 de Abril.

 Abril de 2013.

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