Desabafar com o mar da Palha...digo eu!
....................................................................................Talvez o azul tejo
Partilhado de Rita Blanco Clemente:
Encontrei um banco onde posso empoleirar os meus pés enquanto me deito a escrever por cima de uma mesa à sombra duma árvore (sem ter de consumir absolutamente nada!). O horizonte para lá do rio azul Tejo está tão nítido quanto se consegue avistar os diferentes recortes das habitações da margem Sul.
Corre uma aragem e ouve-se o vento nas folhas das árvores. De repente todos parecem esquecidos das máscaras e cada um ocupa o seu diferente lugar absolutamente natural. A passagem das nuvens e o movimento das pessoas parece não parar e cada instante revela um momento novo. Passou o verão sufocante e construímos o espaço em que os novos dados naturais nos deixam ser aquilo que tentamos desde sempre fazer.
Ontem vi um filme de um homem sobre uma mulher. Uma mulher que morrera, mas para ele ainda não. Um homem raro capaz de distinguir os cambiantes no olhar de uma mulher. Passa um barquinho lá longe no rio e este filme cru em que a câmara treme nas mãos de um homem verdadeiro que procura na câmara, no outro, no além a força para resistir, faz-nos parar. Saímos do filme e não há distracção ou consumismo possível: este filme, a câmara deste realizador fala verdade e dor. Há, portanto, a cada passo também uma procura e há imagens (como a última) que o próprio anuncia como imagem. “Era” verdade, mas transforma-se em película e o realizador mostra-o como que à medida que disso toma consciência. Uma imagem freudiana poderia já lhe ter dito algo, mas agora, depois da morte da sua mãe, não passava duma imagem absolutamente insuficiente para explicar o seu estado.
O filme chama-se “Irene” e o realizador Alain Cavalier. O meu local, bancos e mesas de pique-nique do Miradouro de S. Pedro de Alcântara, dia 8 de Setembro. 2020
Rita Clemente
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