Em defesa do ano 1975 e desmontando o ataque miserável e cobarde a Otelo.
Liquidar Abril e a esquerda militar revolucionária.
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«Apenas - Otelo,e não só - evitou uma possível guerra civil. O falecido camarada Diniz Almeida, nunca compreendeu o papel de Otelo, nesse dia, e ficou desde sempre agastado com ele e com Vasco Lourenço. Nunca mais pôs os pés na Associação 25 de Abril, ficou muito chocado com o acontecimento e proferiu palavras amargas debaixo duma pressão inicial e mágoa por ter sido preso injustamente. Este estado de espirito ao longo dos anos e para sempre. Não perdoou aos que fabricaram o inventado golpe de 25 de Nov. Nunca quis discutir o caso.Retirou-se do meio militar de forma radical. Respeita-se. Paz aos dois falecidos. Honra ao que fizeram e participaram na conquista da Liberdade. Os acontecimentos são bastante mais complexos e este aproveitamento é pouco sério. Ainda hoje e aqui tentarei explicar o que se passou,evitando uma provável guerra civil, e como foi decisiva a intervenção de Rosa Coutinho,Martins Guerreiro,Carlos Contreiras,José Emilio,Costa Martins, Comandante dos Fuzileiros ...e outros . Otelo recusou um banho de sangue que seria provável se os Fuzileiros (como se propuseram) atacassem os Comandos. Como sabemos não houve nenhum golpe de esquerda nem de direita. Sim um aproveitamento da saída dos paraquedistas em litígio com o seu CEMFA.
Leiam o livro "A Resistência" de Gomes Mota/1976. Ele explica as acções do grupo dos nove. Otelo não era desse grupo.»
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Uso este comentário de uma resposta dada a alguém que referiu palavras, pouco abonatórias, de Diniz de Almeida sobre Otelo Saraiva de Carvalho.
O que se passou durante o ano de 1975 merece ser contextualizado pois ao focarmo-nos em casos isolados proporcionamos as mais descabidas especulações.
Vasco Gonçalves solicita-nos, no final do ano de 1974, para que no Boletim do MFA (edição quinzenal da Comissão Coordenadora do MFA produzida pela 5ªDivisão do EMGFA) se aborde o tema do positivo progresso político e do entrave/estagnação do processo económico no país. Nesse artigo editado, com o título “Do Politico ao Económico” se narram as contradições. Enquanto politicamente teriam já havido os avanços que traduziram vastas Conquistas da Revolução, com dezenas de Decretos-Leis, (mais tarde plasmados na Constituição Portuguesa) no campo económico era notória a influência das estruturas da ditadura, com poderes dos senhores do capital a boicotar e a sabotar o melhor caminho para o desenvolvimento sustentável e necessário face a uma nova ordem que se exigia. Era forçoso nascer um novo Plano Económico consequente com as novas realidades.
Melo Antunes e um grupo de “experts” vão para Sesimbra e produzem um Plano Económico que por algum radicalismo de esquerda e de falhas no seu conteúdo acabou por não ser aprovado pelo MFA. Estávamos em Fevereiro desse ano e o 11 de Março-ataque Spinolista- acelerou a luta contra a sabotagem e boicote dos “grandes senhores” ao desenvolvimento democrático do país e reformulou a estrutura revolucionária dum MFA, apesar de já se avizinhar um sentimento de desagregação deste. Unidos sim , nesse dia do cobarde ataque ao RAL 1, manipuladas. as forças paraquedistas de Tancos, pelo próprio Spínola que fugiria com alguns dos seus colaboradores para Espanha.
Frank Carlucci , embaixador dos EUA ins alou-se em Portugal no principio de 1975. Já tinha currículo de servidor anti-democracias. Nunca se esclareceu a sua influência sobre personagens do nosso processo e se ela não terá chegado a Spínola antes do seu golpe anti-patriota. Talvez seja conveniente esclarecer um acontecimento nada divulgado pelos “midia”. Referimo-nos ao acordo de Vladivostok em 24 de Novembro de 1974. Repito de 1974.Nessa ocasião Brejnev, Ford e Kissinger, entre outras decisões aplaudiram o regresso massivo de portugueses trabalhadores nas colónias, sobretudo de 500.000 de Angola, através duma ponte aérea, apoiada pelos americanos e que serviu de chantagem, como adiante se referirá. Aí ficou clara uma divisão: O petróleo de Angola para os EUA e o resto para a URSS (infelizmente já em processo decadente). Mais, ter sido notório, no acordo, que Portugal jamais seria um satélite comunista mas sim um precioso membro da NATO. O PCP soube disso mas não conseguiu travar o anti-comunismo , cego e demagógico, fabricado pelo obscurantismo de 48 anos da ditadura Salazarista. Qualquer reivindicação em prol dos mais elementares direitos do Povo Português desde o MFA (progressista) ao mais radical extremismo de esquerda era atribuída ao PCP. Esta incultura foi grave ,muito grave.
Vieram as eleições em 25 de Abril de 1975, sempre defendidas como oportunas pelo PR, Costa Gomes e por parte do MFA e contra quem considerava ainda precipitado.. O Partido Socialista venceu. Logo sobressaíram manifestações significativas por parte de certa percentagem dos seus dirigentes, com destaque para Mário Soares e aplausos do embaixador Americano.
Lembrar a alameda D.Afonso Henriques ,em Julho, e a saída dos ministros do PS do quarto Governo de Vasco Gonçalves. Aqui, pode dizer-se, começou o 25 de Novembro. Manifestaram-se no processo outros actores , os designados de moderados. Todos os outros, aderentes à revolução, foram apelidados de radicais e extremistas .
Os EUA através de Carlucci lançaram então o seu ataque a quem, em verdade. queria uma revolução que incluísse a protecção dos mais desfavorecidos.A chantagem como referi antes, foi “ou despedem Vasco Gonçalves ou deixamos de apoiar a ponte aérea ou até aplicamos outras sanções”. Depois de algumas acesas discussões,com vitórias e derrotas, entre facções do MFA, agora já verdadeiramente dividido, acontecem o aparecimento do grupo dos nove, chefiado por Melo Antunes, o assalto à 5ª Divisão do EMGFA pelo Regimento de Comandos, a extinção deste num dia e seu ressurgimento no dia seguinte avalizado por Otelo, a carta de Otelo a aconselhar Vasco Gonçalves a ir para casa e finalmente em princípios de Setembro e em Tancos, a sua exoneração de Primeiro Ministro, numa Assembleia (Ad-Hoc) do Exercito, (com alguns militares acabados de chegar de Angola).
Intensifica-se o caminho para o 25 de Novembro com a nomeação de Pinheiro de Azevedo, como PM do sexto governo provisório, o qual provocaria conturbados episódios, como o cerco à AR pelos trabalhadores, outras manifestações e actos provocatórios…até ao fatal dia.
Antes desse dia o culminar das dissensões é traduzido pela nomeação de Vasco Lourenço, como Governador Militar de Lisboa , substituindo Otelo Saraiva de Carvalho. A maioria das unidades militares não aceitou bem esta mudança como verifiquei e transmiti aos jornalistas, ao portão do COPCON, divulgando quais estavam contra e quais (muito poucas) estavam a favor. Poderão confirmar na imprensa da época. De notar que nesse debate estiveram representantes de todas as unidades em causa. Lá esteve em surdina Jaime Neves.
O PR ,Costa Gomes, em nova tentativa de serenar os ânimos, convoca todos os comandantes das referidas unidades para uma reunião no Regimento da Policia Militar. Comunica e confirma a nomeação de Vasco Lourenço, apesar das razões, contra e a favor, apresentadas por alguns dos intervenientes. Eu próprio enfrentei argumentos de Jaime Neves no seu ataque ao MFA e às características duma nova mentalidade de acção,de operações,de comando e de disciplina consentida. Estamos a dois ou três dias do nevoeiro de Outono.
As manobras para acabar com a esquerda militar revolucionária estavam no seu ponto mais alto. É, como já referi, clarificador, ler o livro do comandante Gomes Mota editado em 1976: “A Resistência”. Temos, ponto por ponto, como foi preparada a inventona de golpe da esquerda em 25 de Novembro. Vasco Lourenço no seu livro “No interior da Revolução”, há poucos anos escrito, também acaba por ser esclarecedor e numa entrevista comigo na RTP conclui e declara gentilmente que não houve nenhum golpe mas sim um aproveitamento da revolta dos paraquedistas de Tancos, por parte do grupo de coronéis. Esses que efectivamente tinham um plano, descrito neste livro quarenta anos depois.
Para quem não saiba o então Chefe do Estado Maior da Força Aérea, Morais Silva,resolveu liquidar o Regimento de Paraquedistas de Tancos e mandar para o desemprego cerca de quatro mil -4.000- profissionais duma especialidade, contratual, de tipo permanente ,como os marinheiros . Grande parte chefes de família.
Claro que no contexto da época era admissível contestarem-se estas ordens desumanas. A reação dos paraquedistas, ocupação de Bases Aéreas, foi isolada de qualquer outra motivação que não a manutenção do seu posto de trabalho. Foi isso que explicaram quando lhes dei oportunidade, com o conhecimento que dei ao COPCON, de esclarecerem os portugueses na RTP durante a tarde no dia 25 de Novembro.
No fim desse dia foi decretado o estado de sítio e o PR chamou todos os comandos dos quarteis do Governo Militar de Lisboa. Os que compareceram tiveram a prisão como destino. Outros ,como eu, exilaram-se. Entretanto o Regimento de Comandos passeou-se por Lisboa e atacou, já noite fora, os militares do Regimento da Policia Militar cujo comandante Major Campos Andrada e segundo comandante Capitão Mário Tomé se mantiveram activos na chefia dos seus homens. Infelizmente houve três vítimas dum lado (2) e de outro(1) mas o conflito foi de pouco tempo.
Otelo também foi chamado pelo PR e apresentou-se. Antes,no COPCON, não tinha aceitado o contributo de certas forças (exemplo:Fuzileiros) que queriam reagir à jactância dos Comandos de Jaime Neves. Também os outros militares acima referidos, Rosa Coutinho ,Martins Guerreiro,Carlos Contreiras ,José Emilio, Costa Martins,Comandante dos Fuzileiros…, acharam conveniente evitar-se um confronto que certamente acabaria numa guerra fratricida e banho de sangue.
Otelo e não só, estiveram bem.
Ao largo uma esquadra americana esperava o quê? Sabemos bem.
Manuel Duran Clemente, cor.ref. / Lisboa 28.07.2021
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