Manuel Duran Clemente fez, ontem, 78 anos. Nascido em 1942, tinha eu os meus 25 anos, quando ele - com 33 anos e capitão do exército português - fez parte do núcleo dos que transformaram Portugal numa democracia. Eu tinha acabado de regressar da guerra colonial em Moçambique e ele andava atarefado, com o grupo dos militares que tentavam aguentar as mudanças necessárias, conter os fascistas que se ...acoitavam nos ministérios, nas empresas, na PIDE, nas policias, no próprio exército, onde nem todos queriam aderir à "aventura" que era derrubar uma "ordem" politica e social estabelecida há 48 anos. Coube-lhe, entre outras, a espinhosa missão de falar aos portugueses, em nome do Movimento das Forças Armadas. Coube-lhe explicar as razões para certos actos e indicar os objectivos da revolução. Coube-lhe o papel sempre ingrato de mostrar a cara ao público, em representação dos milhares de militares que lutavam pela democracia. Ele estava por dentro de tudo. Tão por dentro que tinha sido ele o militar que tinha escrito os documentos de uma grande parte das razões e dos motivos para a revolta militar. Sem medo, sem hesitar, sem recear por si e pela sua família, ele escreveu os tópicos e as razões da revolta, ele mostrou a cara, ele enveredou pelo lado dos que queriam a liberdade do povo português e mostrar que a valentia não se mostrava numa arma que disparava contra outros povos, nem em fardas engalanadas de medalhas de sangue. Ele foi um homem integro e, porque o foi, eu tenho o gosto de o ter como amigo e de estar com ele para o futuro. Porque não há futuro sem homens e mulheres novos e velhos. Porque não há Liberdade quando não se relembram os que por ela lutaram. Porque não há democracia, se se deixar que ela seja tomada pelos que querem regressar ao passado triste que o Movimento das Forças Armadas derrubou, para os portugueses terem um país melhor, em 1974. Por isso e em especial para o Manuel Duran Clemente, obrigado a quem deu o corpo e a cara aos objectivos que nos fizeram um país com futuro e ter homens e mulheres muito melhores.
João M C Gomes Ver mais
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— com Manuel Duran Clemente.
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