sexta-feira, 19 de junho de 2020



SEMANA DE ABRIL: 25 DE ABRIL SEMPRE! - DIA 5
«A Guiné foi, por assim dizer, o berço do MFA. Aqui foram lançadas as raízes da transformação de um movimento de reivindicação em movimento revolucionário, que serviu de catalisador ao movimento nascente no Continente.
O MFA na Guiné conspirou, triunfou, governou e descolonizou até à entrega correcta e justa de um território a um povo legitimamente representado pelo Partido que lutou e estabeleceu a sua independência 'de facto e de... jure'.
Dois dos oficiais mais destacados do 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho e Salgueiro Maia, estiveram desde a 1.ª hora nas primeiras tomadas de posição colectivas do Movimento na Guiné. Salgueiro Maia pôs à sua Companhia de Cavalaria 3420 o nome de "Os Progressistas", boa premonição do que estava para vir.
Também aqui estavam outros capitães pioneiros que depois se destacaram no Continente, como Carlos Matos Gomes, Manuel Duran Clemente e @Francisco Faria Paulino. Na Guiné o MFA ensaiou as suas estruturas organizativas e os seus próprios meios de comunicação. Importante foi também a posição política do general António de Spínola perante a guerra colonial e importantes foram também os oficiais que ficaram conhecidos por spinolistas.»
(Jorge Sales Golias, "A Descolonização da Guiné-Bissau e o M0vimento dos Capitães", Edições Colibri, 2016, p. 268)
Ver mais

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Fernando Mascarenhas,o AMIGO

Fernando Mascarenhas,o AMIGO
O AMIGO da minha vida.
Desde os seus 14 anos e meus 17 anos que iniciámos uma amizade eterna.
Querido Fernando quanto devo à tua Amizade e à da tua falecida mãe e de mais família próxima (teu avô e avó),teu padastro ,teus primos e primas...
Quantas conspirações ingénuas fizemos com Amigos e Amigas próximos...colocando à frente como representante de todos Nuno Teotónio Pereira...na quinta Torre das Vargens (Herdade da Torre,do tamanho de Lisboa) e a vossa fracassada tentativa,em 1969, de serem candidatos por Portalegre; o sistema boicotou As reuniões clandestinas em instalações vizinhas do Palácio. Bem me formei convosco como capitão "burguês" um revoltado.Um capitão de Abril,castigado para Bissau(Julho de 73),prometendo-te a tii,ao Fidalgo Vermelho,que ABRIL estaria a chegar.Já eu tinha começado em Portugal a conspirar com outros jovens militares/capitães.
Saudaste o 25 de Abril e foste exímio ao criar a Fundação das Casas de Alorna e Fronteira e ao investir na batalha da Cultura ,contra o obscurantismo e contra a mentira e manipulação.Sempre foste rodeado pelas tuas amigas e amigos de sempre.Há trinta anos fundámos a Associação Amigos da Fundação.Fui sócio fundador (nº3) e da primeira Direcção. Há todo um livro para escrever sobre ti e os teus AMIGOS/AS.Não morreste há 6 anos.Estás neste dia presente. Estás nos outros ,sempre presente.
Hoje comemoraríamos os teus 75 anos. (1945-2014)
Também foste meu padrinho de casamento em 1965.
A TUA MEMÓRIA NUNCA SE APAGARÁ. Até um dia destes!

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Belissimo texto da Rita, minha filha:partilhado.  Junho 2020

[Estudou balett no Conservatorio de Lisboa,em Paris,em Cannes e em Bucareste. Interrompeu. Adora a dança. Licenciou-se em Filosofia na Univ.Nova]


«Improvisava-se em palcos de história antiga e gasta, estudava-se e criava-se. Já éramos vegetarianos e viajava com aquele pequeno grupo de Teatro numa carripana de aldeia em aldeia. Nas aulas de improvisação escolhi um actor grande e com ele dancei como se ele fosse uma árvore. Era o... meu confidente e contava-lhe imensas histórias. Guardo dele a Momo de Michael Ende onde uma menina escapa à perseguição andando muito mais devagar do que quem a perseguia, noutro tempo. Há assim outros tempos. Maravilhosos outros tempos de uma alma tão especial. Lembro os ensaios de voz por entre o cheiro a bafio das salas de ensaio. Lembro os ensaios de expressão corporal. Era tão bom estar entre aquelas pessoas com corpo que faziam sacos de antigas calças e que traziam restos dos restaurantes onde trabalhavam. Pessoas muito inteiras. Daí fui parar ao Conservatório eu e mais as minhas pernas que não sabia ainda bem onde pôr. Lembro o som do piano a ecoar naqueles estúdios vazios. A música era um fascínio. Tão tímida me descobria e me perdia no espelho à frente do qual sozinha acreditava na vitória. O gesto, a harmonia, a doçura, a magia, a força, a verdade da nossa alma que se expressa cheia de sonhos mas embate no corpo tão cheio de limites. Nessa época sonhava dançar em vez de andar e queria ser artista itinerante. Mundos voam. Viagens, livros, filmes, pessoas, campos... O mel e as abelhas, um namoro por entre abelhas, em transumância, roubávamos uvas e descansávamos por entre a urze melífera depois de recolher o mel, comíamos o pão que eu fazia na casa que ele tinha feito. Quis estudar, regressar. O estudo é tão só mas faz-nos tão felizes. Procuro essa fronteira entre pessoas inteiras de um pequeno grupo de Teatro, o gesto e a voz de para quem a teoria tem de ser corpo e vida, a filosofia que alarga os horizontes da ciência, uma poesia sempre eterna num teatro decadente que quer ser conhecimento numa casa de terra onde o espírito pode descansar, uma luz a mais no infinito, sempre em viagem soltando o canto.» Rita Blanco Clemente.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Apontamento Os capitães e Salgueiro Maia

Salgueiro Maia ---Moisés Cayetano
Pequeno apontammento
Há militares que já tinham uma certa cultura vinda do ensino secundário e superior.A partir de 1960 dá-se uma democratização dos cadetes que vão para os tres ramos das FFAA. Com a guerra colonial deixam de ir para as Academias Militares os filhos da classe média alta,de oficiais generais e passam a ir filhos do Povo....(no ramo exercito) de 80 cadetes filhos da burguesia passam a entrar 400 filhos de extractos sociais mais baixos,do Minho a Timor,para satisfazer as necessidades da guerra.Sobre isso ler Maria Carrilho a socióloga que escreveu um livro sobre a "sociologia das FFAA "nos anos 80. Esses jovens oficiais com os jovens da Armada e da Força Aérea têm uma compreensão diferente do que se passa na guerra quando chegam a ela em 1961 e há toda uma dialéctica que se desenvolve nos anos sangrentos.São esses que são capitães,em 1974. entrados nas Academias em 1960 e seguintes .Também é facto bastante importante a companhia de militares milicianos, ex-universitáriose das lutas académicas e alguns com uma cultura politica assaz esclarecida. Durante dois anos ou mais nasce(tempo de cada comissão expedicionária) um caldo de cultura muito estreito que se produz entre os militares de carreira e os militares milicianos.E nos oficiais do quadro (capitães) se repetiu duas três ou mesmo quatro vezes.A realidade da guerra desmente a propaganda da ditadura e ainda mais quando essa guerra se supunha de 4 a 5 anos e chegam aos 13 anos nas tres colonias Guiné,Angola e Moçambique sem uma solução politica esperada à partida.Estamos nos anos 60 .Grandes acontecimentos se passam pelo mundo com lutas de protesto pela liberdade,igualdade e direitos humanos.O ano de 1968, é por exemplo, um ano proficuo de lutas na Europa e noutros continentes : Lutther King,Black Power e mortes de estudantes no México,Maio de 68,lutas académicas, descolonizações, Woodstck/69, os Beatles de 1960 etc,etc........................Nos anos de guerra os capitães no mato desempenham um papel essencial( ler Pezarat Correia-"questionar Abril") que reflecte exactamente sobre três aspectos: o que se passa no mundo, o efeito boomerang da "acção psicológica aprendida nos quarteis" e porquê "capitães. O que se passa no mundo tem a ver com o pos-guerra,com as descolonizações e com as guerras perdidas na Indochina(França) e Vietnam (EUA-quase no fim)para além do que já referi sobre os anos 60.O fruto da acção psicológica que nos ensinaram teve um efeito "boomerang".O que ía na cabeça feita dos militares(e oficiais) é que íamos por bem , com a teoria hipócrita duma "evangelização cultural,religiosa e desenvenvolmentista " o que no contacto com as realidades e com os africanos se revelava com efeito contrário.Não raras vezes eles nos diziam "vocês estão enganados".Vejam! E tivemos mais duma década para ver. Por ultimo porquê capitães ,como diz Pezarat, porque os capitães no mato eram os comandantes ,os pais, os médicos,os enfermeiros,etc... daquela gente à volta dos aquartelamentos.A consciência dos militares foi se desenvolvendo e alargando e bastaram uns quantos mais ousados e mais cultos pliticamente para aglutinar o descontentamento geral.Começa na Guiné por ser mais pequeno o terrirório,mais fácil o contacto dos capitães e a acção aparentemente revolucionária de Spínola!De lá sai em Agosto/73 o primeiro protesto de 50 capitães e já tinha saído,meses antes, o protesto de 400 militares contra um "célebre" "Congresso dos Combatentes no Porto" de aparência ilusória e fabricado pelo Poder na base de milicianos adeptos do regime.Em Setembro aos 50 capitães da Guiné se juntam perto de Évora mais 136 militares (95 capitães,39 tenentes e 2 alferes)...e o «Movimento dito de capitães» passa a contar com praticamente mais de duas centenas de militares porque também entram alguns oficiais superiores e os capitães aderentes de Angola e de Moçambique.................................................................................Já contei aqui no FB, noutra ocasião, que conheci, em Setembro de 1973 ,Salgueiro Maia (vindo do final duma missão no mato) numa reunião ,das autorizadas.no meu batalhão onde estava situada a Biblioteca do QG. Foi clarividente o seu discurso das contradições e a demonstração da sua vontade em derrubar o regime. Militar de coragem."Temos homem" exclamámos alguns.A História viria a confirmã-lo. MDC 1.06.2020
.....................................................................................
Moisés Cayetano Rosado-Manuel Duran Clemente muito obrigado, caro amigo. Espero que sigas bien.