- J,Manuel Barroso;NOTÍCIAS | DO BLOQUEIO
(diário imperfeito, 24 de Abril as 23h)Foi o começo. “E depois do adeus”, na voz do Paulo de Carvalho. A seguir soaria o “Grandola”, do Zeca Afonso. Como um clarim. E terminou um regime e uma guerra. Quase cinco décadas de ditadura e treze de guerras em África. Como todas as mudanças desta dimensão, mudança traumática. Um corte na Historia. Tempos de esperança e de desesperança. A democracia teve de esperar por uma descolonização em tropel para se estabilizar e vingar. Portugal esteve no centro das lutas das grandes potências mundiais. No centro das chamadas guerras frias,Entre o 25 de Abril da festa e o 25 de Novembro da quase guerra civil, dezanove meses de lutas pelo poder. Vários programas do mfa, de facto, cinco contando politicamente. Seis governos, média de um a cada três meses. Golpes palacianos e tentativas de golpe militar. E finalmente a estabilidade. E o voto popular. É muito para um povo. Quando comemoramos o 25 de Abril, neste ano de terror no mundo, esquecemos o que custou a democracia. Abril tem muitos abril dentro.“Onde estava no 25 de Abril?”, costumava perguntar o jornalista Baptista Bastos aos convidados do seu programa na tv. Eu respondo, e isto responde também pelo desliterário diário desta noite. Eu era militar, capitão
miliciano, e estava na Guiné. Tinha chegado cerca de dois anos e até conspirado, depois disso. Trabalhado com Spinola e partilhado anseios de mudança com Otelo, Almeida Bruno, Matos Gomes, Manuel Monge, Jorge Golias, Duran Clemente, Carlos
Fabiao, e tantos tantos outros que omito por ser longa a lista. Todos eles uma peça, mais ou menos importante no puzzle
que culminou numa noite, no começo mera data como esta.Estávamos, em Bissau, também na conspiração. e éramos possível recurso de acção. Caso na metrópole o golpe falhasse. A Guiné foi determinante para o que se passou. Pelos militares que por lá cumpriram missão. Pela contestação organizada, que lá teve início bem antes do determinante ‘movimento dos capitães’, Pelo corajoso e importante livro “Portugal e o Futuro”. Começado a escrever pelo general António de Spinola, então governador e Comandante Chefe e depois primeiro Presidente. Por lá passaram o Otelo, o Salgueiro Maia, o Vasco Lourenco.Se escrevo isto hoje, nesta noite de
solidão, é porque estou aovlado e do lado de todos os que lutaram. Oficiais e soldados. E civis. Tenho memória, e memórias. Esta data diz-me respeito.
sexta-feira, 24 de abril de 2020
Coisas de Abril com nevoeiro
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