UCRÂNIA
Rússia de Quieve no século XI.
Durante a idade de ouro de Quieve, as terras do principado
alcançavam grande parte das atuais Ucrânia, Bielorrússia e Rússia europeia
Durante os séculos IX, X, XI e XII o território da Ucrânia tornou-se o centro
de um Estado poderoso e prestigioso na Europa, a Rússia de Quieve, o que
estabeleceu a base das identidades nacionais ucraniana e das demais nações
eslavas orientais nos séculos subsequentes. A capital do principado era Quieve,
conquistada aos czares por Ascoldo e Dir por volta de 860.
Conforme a Crônica de Nestor, a elite do principado era
inicialmente formada por varegues provenientes da Escandinávia que foram mais
tarde assimilados à população local de modo a formar a dinastia ruríquida. A
Rússia de Quieve era formado por diversos domínios governados por príncipes
ruríquidas aparentados. Quieve, o mais influente de todos os domínios, era
cobiçado pelos diversos membros da dinastia, o que levava a enfrentamentos
frequentes e sangrentos. A era dourada do principado coincide com os reinados
de Vladimir, o Grande (r. 980–1015), que aproximou o seu Estado do cristianismo
bizantino, e seu filho Jaroslau I, o Sábio (1019-1054), que viu o principado
atingir o ápice cultural e militar.
O processo de fragmentação que se seguiu foi interrompido,
em alguma medida, pelos reinados de Vladimir Monômaco (1113-1125) e de seu
filho, o príncipe Mistislau I (r. 1125–1132), mas o território terminou por
desintegrar-se em entidades separadas após a morte do último. A invasão mongol
do século XIII desferiu ao principado o golpe de misericórdia, do qual nunca
União de Lublim de 1569, por Jan Matejko, 1869, óleo sobre tela, Museu
Nacional, Varsóvia Na região correspondente ao atual território da Ucrânia,
sucederam a Rússia de Quieve os principados de Galícia e de Volínia,
posteriormente fundidos no Reino da Galícia-Volínia, liderado por Daniel da
Rutênia.
Em meados do século XIV, o Estado foi conquistado por
Casimiro IV da Polônia, enquanto que o cerne da antiga Rússia de Quieve -
inclusive a cidade de Quieve - passou ao controle do Grão-Ducado da Lituânia. O
casamento do grão-duque Jagelão da Lituânia com a rainha Edviges da Polônia pôs
sob controle dos soberanos lituanos a maior parte do território ucraniano. Por
força da União de Lublim, de 1569, que criou a Comunidade Polaco-Lituana, uma
porção considerável do território ucraniano passou do controle lituano para o
polonês, transferido para a coroa da Polônia.
Sob pressão de um processo de "polonização", a
maior parte da elite rutena (isto é, eslava ou eslavizada, mesmo que de origem
lituana) converteu-se ao catolicismo. O povo, porém, manteve-se fiel à Igreja
Ortodoxa, o que levou ao surgimento de tensões sociais demonstradas, por
exemplo, pela União de Brest, de 1596, pela qual Sigismundo III Vasa tentou
criar uma Igreja Católica Grega Ucraniana vinculada à Igreja Católica Romana.
Os plebeus ucranianos, vendo-se sem a proteção da nobreza
rutena - cada vez mais convertida ao catolicismo romano - voltaram-se para os
cossacos (fervorosamente ortodoxos) em busca de segurança. Cossacos (1600-1800)
Após a invasão mongol da Rússia, grande parte da Ucrânia foi controlada pelo
Grão-Ducado da Lituânia e, após a União de Lublin (1569), pela Polônia dentro
da Comunidade Polaco-Lituana, ilustrada aqui em 1619.
Em meados do século
XVII, um quase-Estado cossaco, o Zaporozhian Sich, foi criado pelos cossacos do
Dniepre e pelos camponeses rutenos que fugiam da servidão polonesa. A Polônia
não tinha o controle efetivo daquela área, hoje no centro da Ucrânia, que se
tornou então um Estado autônomo militarizado, ocasionalmente aliado à
comunidade. Entretanto, a servidão do campesinato pela nobreza polonesa, a
ênfase da economia agrária da Comunidade na exploração da mão de obra servil e,
talvez a razão mais importante, a supressão da fé ortodoxa terminaram por
afastar os cossacos e a Polônia. Assim, os cossacos voltaram-se para a Igreja
Ortodoxa Russa, o que levaria finalmente à queda da Comunidade Polaco-Lituana.
A grande rebelião cossaca de 1648 contra a comunidade e
contra o rei polonês João II Casimiro levou à partilha da Ucrânia entre a
Polônia e a Rússia, após o tratado de Pereyaslav e a guerra entre Rússia e
Polônia. Com as partilhas da Polônia no final do século XVIII entre a Prússia,
a Áustria e a Rússia, o território correspondente à atual Ucrânia foi dividido
entre o Império Austríaco e o Império Russo, aquele anexando a Ucrânia
Ocidental (com o nome de província da Galícia), este incorporando o restante do
território ucraniano.
Em que pese o fato de que as promessas de autonomia da
Ucrânia conferidas pelo tratado de Pereyaslav nunca se materializaram, os
ucranianos tiveram um papel importante no seio do Império Russo, participando
das guerras contra as monarquias europeias orientais e o Império Otomano e ascendendo
por vezes aos mais altos postos da administração imperial e eclesiástica russa.
Posteriormente, o regime czarista passou a executar uma
dura política de "russificação", proibindo o uso da língua ucraniana
nas publicações e em público.
Era soviética Soldados do Exército Insurgente da Ucrânia em
1917 O colapso do Império Russo e do Império Austro-Húngaro após a Primeira
Guerra Mundial, bem como a Revolução Russa de 1917, permitiram o ressurgimento
do movimento nacional ucraniano em prol da autodeterminação.
Entre 1917 e 1920, diversos estados ucranianos se
declararam independentes: o Rada Central, o Hetmanato, o Diretório, a República
Popular Ucraniana e a República Popular Ucraniana Ocidental. Contudo, a derrota
daquela última na Guerra Polaco-Ucraniana e o fracasso polonês na Ofensiva de
Quieve (1920) da Guerra Polaco-Soviética fizeram com que a Paz de Riga,
celebrada entre a Polônia e os bolcheviques em março de 1921, voltasse a
dividir a Ucrânia.
(continuação) UCRÂNIA. A porção ocidental
foi incorporada à nova Segunda República Polonesa e a parte maior, no centro e
no leste, transformou-se na República Socialista Soviética Ucraniana em março
de 1919, posteriormente unida à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
quando esta foi criada, em dezembro de 1922.
O ideal nacional ucraniano sobreviveu durante os primeiros
anos sob os soviéticos. A cultura e a língua ucranianas conheceram um
florescimento quando da adoção da política soviética de nacionalidades. Seus
ganhos foram postos a perder com as mudanças políticas dos anos 1930. Vítima do
Holodomor numa rua da cidade ucraniana de Kharkiv, em 1932
A industrialização soviética teve início da Ucrânia a
partir do final dos anos 1920, o que levou a produção industrial do país a
quadruplicar nos anos 1930. O processo impôs um custo elevado ao campesinato,
demograficamente a espinha dorsal da nação ucraniana.
Para atender a necessidade de maiores suprimentos de
alimentos e para financiar a industrialização, Josef Stálin e Lazar Kaganovitch
estabeleceram um programa de coletivização da agricultura pelo qual o Estado
combinava as terras e rebanhos dos camponeses em fazendas coletivas.
O processo era garantido pela atuação dos militares e da
polícia secreta: os que resistiam eram presos e deportados. Os camponeses
viam-se obrigados a lidar com os efeitos devastadores da coletivização sobre a
produtividade agrícola e as exigências de quotas de produção ampliadas.
Tendo em vista que
os integrantes das fazendas coletivas não estavam autorizados a receber grãos
até completaram as suas impossíveis quotas de produção, a fome tornou-se
generalizada. Este processo histórico, conhecido como Holodomor (ou Genocídio
Ucraniano), levou milhões de pessoas a morrerem de fome. Na mesma época, os
soviéticos acusaram a elite política e cultural ucraniana de "desvios
nacionalistas", quando as políticas de nacionalidades foram revertidas no
início dos anos 1930.
Duas ondas de expurgos (1929-1934 e 1936-1938) resultaram
na eliminação de quatro-quintos da elite cultural da Ucrânia.
Segunda Guerra Mundial Quieve em ruínas durante a Segunda
Guerra Mundial. A cidade foi ocupada pela Alemanha nazista entre 1941 e 1943.
Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns membros do
subterrâneo nacionalista ucraniano lutaram contra nazistas e soviéticos,
indistintamente, enquanto que outros colaboravam com ambos os lados.
Em 1941, os invasores alemães e seus aliados do Eixo
avançaram contra o Exército Vermelho. No cerco de Quieve, a cidade foi
designada pelos soviéticos como "Cidade Heroica" pela feroz
resistência do Exército Vermelho e da população local. Mais de 660 000 soldados
soviéticos foram capturados ali.[15][16]
De início, os alemães foram recebidos como libertadores por
muitos ucranianos na Ucrânia Ocidental. Entretanto, o controle alemão sobre os
territórios ocupados não se preocupou em explorar o descontentamento ucraniano
com as políticas soviéticas; ao revés, manteve as fazendas coletivas,
executaram uma política de genocídio contra judeus e de deportação para
trabalhar na Alemanha (ver: Holocausto na Ucrânia).
Dessa forma, a maioria da população nos territórios
ocupados passou a opor-se aos nazistas.[15]
As perdas totais civis durante a guerra e a ocupação alemã
na Ucrânia são estimadas entre cinco e oito milhões de pessoas, inclusive mais
de meio milhão de judeus. Dos onze milhões de soldados soviéticos mortos em
batalha, cerca de um-quarto eram ucranianos étnicos.[16]
Com o término da Segunda Guerra Mundial, as fronteiras da
Ucrânia soviética foram ampliadas na direção oeste, unindo a maior parte dos
ucranianos sob uma única entidade política. A maioria da população não
ucraniana dos territórios anexados foi deportada. Após a guerra, a Ucrânia
tornou-se membro das Nações Unidas.
Chernobil Usina Nuclear de Chernobil após a explosão do
reator n.º 4. Entre os dias 25 e 26 de abril de 1986, o reator nuclear nº 4 da
Usina Nuclear de Chernobil explodiu após um teste de rotina, perto da cidade de
Pripyat, no norte da República Socialista Soviética da Ucrânia, próxima da
fronteira com a República Socialista Soviética da Bielorrússia, ambas parte da
União Soviética.[17] Uma combinação de falhas inerentes no projeto do reator,
bem como dos operadores dos reatores que organizaram o núcleo de uma maneira
contrária à lista de verificação para o teste, resultou em condições de reação
descontroladas.
A água superaquecida foi instantaneamente transformada em
vapor, causando uma explosão de vapor destrutiva e um subsequente incêndio que
jogou grafite ao ar livre[18] e produziu correntes ascendentes consideráveis
por cerca de nove dias.[19] O fogo foi finalmente contido em 4 de maio de
1986.[20] As plumas de produtos de fissão lançadas na atmosfera pelo incêndio
precipitaram-se sobre partes da União Soviética e da Europa Ocidental.
O inventário radioativo estimado que foi liberado durante a
fase mais quente do incêndio foi aproximadamente igual em magnitude aos
produtos de fissão aerotransportados liberados na explosão inicial.[21] O
número total de vítimas, incluindo os mortos devido ao desastre, continua a ser
uma questão controversa e disputada.[22]
Durante o acidente, os efeitos da explosão de vapor
causaram duas mortes dentro da instalação: uma imediatamente após a explosão e
a por uma dose letal de radiação. Nos próximos dias e semanas, 134 militares
foram hospitalizados com síndrome aguda da radiação (SAR), dos quais 28
bombeiros e funcionários morreram em meses.[23] Além disso, cerca de quatorze
mortes por câncer induzido por radiação entre esse grupo de 134 sobreviventes
ocorreram nos dez anos seguintes.[24]
Entre a população em geral, um excedente de 15 mortes
infantis por câncer de tireoide foi documentado em 2011.[25][26]
A catástrofe de Chernobil é considerada o acidente nuclear
mais desastroso da história, tanto em termos de custo quanto de baixas. É um
dos dois únicos acidentes de energia nuclear classificados como um evento de
nível 7 (a classificação máxima) na Escala Internacional de Acidentes
Nucleares, sendo o outro o acidente nuclear de Fukushima I, no Japão, em 2011.
Independência Presidente ucraniano Leonid Kravtchuk e Boris
Iéltsin assinando o Pacto de Belaveja, que tornava a Ucrânia independente O
colapso da União Soviética em 1991 permitiu a convocação de um referendo que
resultou na proclamação da independência da Ucrânia.
Após isso, o país experimentou uma profunda desaceleração
econômica, maior do que a de algumas das outras ex-repúblicas soviéticas.
Durante a recessão, a Ucrânia perdeu 60% do seu PIB entre 1991 e 1999,[28][29]
além de ter sofrido com taxas de inflação de cinco dígitos.[30] Insatisfeitos
com as condições econômicas, bem como as taxas de crime e corrupção, os
ucranianos protestaram e organizaram greves.[31] A economia ucraniana
estabilizou-se até o final da década de 1990.
A nova moeda, o hryvnia, foi introduzida em 1996.
Desde 2000, o país
teve um crescimento econômico real constante, com média de expansão do PIB de
cerca de 7% ao ano.[32]
A nova constituição ucraniana, que foi adotada durante o
governo do presidente Leonid Kuchma em 1996, acabou por tornar a Ucrânia uma
república semipresidencial e estabeleceu um sistema político estável.
Kuchma foi, no entanto, criticado por adversários por
corrupção, fraude eleitoral, desestimulação da liberdade de expressão e muita
concentração de poder em seu cargo. Ele também transferiu, por várias vezes,
propriedades públicas para as mãos de oligarcas fiéis a ele.[33]
Manifestantes na
Praça da Independência (Maidan Nezalejnosti), no primeiro dia da Revolução
Laranja .
Em 2004, Viktor Yanukovych, então primeiro-ministro, foi
declarado vencedor das eleições presidenciais, que tinham sido largamente
manipuladas, como o Supremo Tribunal da Ucrânia constatou mais tarde.[34]
Os resultados causaram um clamor público em apoio ao
candidato da oposição, Viktor Yushchenko, que desafiou o resultado oficial do
pleito. Isto resultou na pacífica Revolução Laranja, a qual foi reprimida
violentamente, mas que trouxe Viktor Yushchenko e Yulia Tymoshenko ao poder,
enquanto lançou Viktor Yanukovych à oposição.[35] Yanukovych retornou a uma
posição de poder em 2006, quando se tornou primeiro-ministro da Aliança de
Unidade Nacional,[36] até que eleições antecipadas em setembro de 2007 tornaram
Tymoshenko primeira-ministra novamente.[37]
Disputas com a Rússia sobre dívidas de gás natural
interromperam brevemente todos os fornecimentos de gás à Ucrânia em 2006 e
novamente em 2009, levando à escassez do produto em vários outros países
europeus.[38][39] Viktor Yanukovych foi novamente eleito presidente em 2010,
com 48% dos votos.[40]
Euromaidan (uma compilação de Joffre Antonio Justino)